*Por Lorena Abrahão
Permita sentir a bruxa que
existe dentro de você!
Logo nos primeiros anos
escolares, iniciamos o contato com a imposição de que bruxas são feias,
corcundas e más. De onde vem isso tudo, do folclore ou do machismo?!
Isso pode até justificar-se
pelo folclore, mas basta se aprofundar um pouco na História que logo percebemos
a relação com a cultura patriarcal, onde o gênero masculino domina o feminino.
Na sociedade celta (séc. VI
a.C. até a Baixa Idade Média) homens e mulheres viviam em condições iguais. O
sexo biológico não determinava a função de um indivíduo em seu lugar. Homens e
mulheres tinham o mesmo poder de opinião, mas no passar dos anos esta
configuração social foi se modificando. Chegado o período de transição da Idade
Média (séc. V a.C.) para a Idade Moderna (séc. XV ao XVIII d.C.), as mulheres
já não tinham direito à propriedade, ao voto, nem mesmo ao prazer sexual; mas
bem sabemos que as mulheres não ficariam por muito tempo sem questionar a sua
condição social.
Segundo a Revista Espaço
Acadêmico (n°53, de outubro/2005), entre os séculos XV e XVI o Teocentrismo –
doutrina que considera Deus como centro de tudo, decai dando lugar ao
Antropocentrismo – onde o ser humano passa a ocupar o centro. O que conduz a
uma instabilidade e descentralização do poder da Igreja. Na busca de recuperar
o poder perdido, a Igreja Católica e Protestante instaurou os Tribunais da
Inquisição, onde podemos ler “caça às bruxas”, movimento que ocorreu de
diversas formas, reforçado pela classe dominante e pelo próprio Estado; com
significado religioso, político e sexual.
Foram três séculos de
perseguição política e social às mulheres, principalmente das que viviam no
campo – por sua vez, estas eram conhecidas como “curandeiras”, mulheres com
vasto conhecimento popular sobre a natureza e suas potencialidades, muitas
vezes a única fonte de cuidado de saúde para mulheres e pessoas pobres. No
geral suas aparências não correspondiam às padronizadas pela sociedade. Estima-se
que nove milhões de pessoas foram acusadas, julgadas e mortas neste período,
onde mais de 80% eram mulheres, inclusive crianças e moças que haviam “herdado
este mal” (MENSCHIK,
1977: 132).
Os saberes das mulheres ameaçavam
a dominação patriarcal impetrada pela Igreja Católica.
Já no início do século XX,
nos Estados Unidos, inicia-se A Caça às Bruxas Comunistas, período conhecido
como Marcatismo. Neste, o foco da perseguição era cultural, especialmente aos
que ousassem manifestar-se em prol da aliança com a União Soviética ou com
práticas anti-americanas.
Culturalmente tendemos a
copiar tradições ruins, ainda mais com a imposição da Cultura Imperialista. O
que percebemos, é que o Dia das Bruxas nada mais é do que a comemoração das
mortes dos milhões de mulheres sábias e a tentativa de apagar a história de
cada uma delas.
Foram séculos de mulheres e
cultura feminina sendo queimadas nas fogueiras da Santa Inquisição, porém,
dentro de cada mulher há a herança de cada bruxa queimada. No livro “Todas as
Mulheres são Bruxas”, de Isabel Vasconcelos, você encontra a relação do ser
bruxa, com o que chamamos de intuição feminina. Vale a pena ler, e muito mais
vale a pena resgatar cada bruxa que existe dentro de cada mulher.
Significado de bruxa,
segundo o dicionário Priberam:
bru·xa |ch|
(origem duvidosa)
(origem duvidosa)
substantivo
feminino
1. Mulher que faz bruxarias.
2. [Figurado] Mulher velha e antipática.
3. Panela de barro, crivada de buracos, que faz as vezes de braseiro.
4. [Ictiologia] Peixe da costa de Portugal, também conhecido por cascarra.
Confrontar: broxa.
Um das versões de bruxa que
o movimento de mulheres recomenda:
https://www.youtube.com/watch?v=n4RecjyPeBc
*Lorena Abrahão é militante
da Marcha Mundial das Mulheres, com formação em Letras e atuação em assessoria
sindical.