* Por Ana Carla Franco e Julia Gabriela Leão Monteiro
Segundo
dados do último mapa da violência, elaborado em 2015 pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, o
homicídio de mulheres negras aumentou 54% em 10 anos, enquanto que o de brancas
reduziu 10% no mesmo período, além de evidenciar que a mulher negra também é a
maior vítima de estupro. Mas por que as negras são as maiores vítimas?
Assim como os demais países latino-americanos, o Brasil ainda
sofre com o racismo estrutural e estruturante em nossa sociedade, fruto de uma
cultura escravocrata e colonialista. A população negra não recebeu nenhum tipo
de atenção ou política de integração com o fim da escravidão, sendo jogados à
margem da sociedade. Para as mulheres negras a situação é pior, pois além de
serem vítimas de racismo, sofrem com a violência sexista, sendo utilizadas como
objeto sexual por séculos, formando uma cultura que se arrasta até os dias
atuais. Em resumo, a camada social mais pobre e marginalizada é a que mais
sofre com a violência.
Em face desta situação, uma forte articulação de mulheres nas
áreas de comunicação, cultura, acadêmica e afins na América Latina e Caribe
organizou o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas em
1992 na República Dominicana, que resultou na criação de uma Rede de Mulheres
Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas e a celebração do dia 25 de Julho como
Dia da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha, internacionalizando assim o
debate do feminismo negro, que surgiu a partir da década de 70, impondo a
necessidade de interseccionalidade de gênero, raça, classe, etnia, orientação
sexual e religiosidade, significando assim uma ruptura com um feminismo que não
nos contempla, que historicamente foi hegemonizado por mulheres brancas e de classe
alta.
Neste dia, pretendemos dar visibilidade à vulnerabilidade da
mulher negra em nossa sociedade marcada pelo racismo patriarcal
heteronormativo, que vitimiza de forma desproporcional a população de mulheres
negras e pobres, além de lutar para o fomento de políticas que venham a atender
esta camada e possamos diminuir os índices de violência apontados. As mulheres
negras seguem em marcha neste dia pois precisamos dialogar sobre esta
problemática.
O protagonismo das mulheres negras no movimento feminista é
outro ponto que temos que dialogar. Cadê elas no movimento? E quando estão,
quais os papeis delegados às companheiras das quebradas, das periferias, as
nossas irmãs negras? Precisamos das vozes das negras, das suas pautas, que são
violadas cotidianamente nesse sistema. Até quando, irmã branca, tu vais querer
monopolizar a fala? Não é pra diluir o movimento, mas temos que ser diversas em
nossas vozes, em nossas lutas, em nossos olhares. Todas são bem vindas pra
chegar e construir o movimento feminista, precisamos muito unir forças, mas
jamais monopolizar as pautas. Somos muitas e diversas! Não podemos esquecer que
temos que passar o bastão do movimento para todas, e nesta luta seguiremos em
marcha até que todas sejamos livres!