quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A briga dos 30%

por Gisele Dantas*

Num país onde 66,24% da população queria uma mulher na presidência no 1º turno, porque é tão difícil compor um ministério tendo 30% de mulheres como ministras? Eu venho me fazendo essa pergunta desde que a Dilma, nossa presidenta, resolveu enfrentar essa maratona. Nos jornais não se fala em outra coisa, a não ser nas fofocas de corredor, em que partidos e forças políticas não conseguem (ou não querem) indicar mulheres para ocupar suas pastas no governo. Qual será o problema afinal, de qualificação? De preferência? De capacidade? Falta de quadros? Na grande dança-da-composição do governo da Dilma, o "fardo" da cota das mulheres está sendo empurrado de mão em mão, e ninguém quer comprar a prática politicamente correta, nem os partidos de esquerda.
O que eu observo é que a participação das mulheres na política brasileira é um fenômeno complexo, pois aparentemente avançamos muito por ter 2 mulheres disputando fortemente a presidência da república (elegemos uma delas inclusive), mas isso não se reflete na participação cotidiana, no executivo estadual ou no legislativo. Quando olhamos os dados estatísticos não conseguimos perceber um crescimento constante da participação das mulheres, aliás, o gráfico de crescimento não se altera desde o boom da constituinte, onde dobramos o número de assentos.
Não é de hoje que tentamos, através das cotas, aumentar a participação política das mulheres. No legislativo temos a lei dos 30% desde 97 e nunca conseguimos alcançar 1/3 disso. Na Câmara dos Deputados (pode se dizer “dos” mesmo), são apenas 48 mulheres, num universo de 540 deputados, o que quer dizer 8% de representação a legislatura 2007-2011, e este ano foram 45 mulheres eleitas deputadas federais, ou seja, nada mudou!
E pra completar o jornal O Globo quer fazer enquete para decidir quem é a “musa do congresso”, pra saber quem vai ser a parlamentar mais gostosa dessa legislatura!!!! Já não basta serem poucas, ainda têm que superar o machismo.
No senado a coisa não é diferente, temos 10 senadoras no período 2003-2015 (pois a legislatura é de 8 anos), num total de 81 senadores. Nas eleições de 2010, dos 54 eleitos apenas 8 são mulheres, e isso não representou aumento do número de mulheres no senado como um todo.
Alguns dizem que a baixa representatividade da mulher brasileira na política é uma questão de desenvolvimento social, pois temos uma democracia ainda recente em nosso país. Este pode ser um fator, relevante, mas não explica tudo. Em países bem menos desenvolvidos como Ruanda, por exemplo, tem uma representatividade de 48% de mulheres no parlamento. O Brasil é o 146º em representação feminina no parlamento e fica entre os 10 primeiros em crescimento econômico.
 A verdade é que o nosso crescimento tem sido lento em ocupar o espaço político, quase na estagnação. Neste ritmo, levaremos mais 2 séculos pra ocupar metade da casa, o que seria o socialmente justo, já que representamos 51% do eleitorado. E ainda dizem que já conquistamos todos os nossos direitos!
A Dilma tem uma tarefa árdua de mudar a história e enfrentar o machismo onde ele mais influencia na vidas das mulheres e onde parece que ele está mais arraigado, nos espaços de poder. E nós ainda temos muita luta pra fazer.

* Gisele Dantas é estudante de Direito da UFPA e militante da Marcha Mundial de Mulheres.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A Culpa é do Fidel!

Título original: La Faute à Fidel
Lançamento: 2006 (França, Itália)
Direção: Julie Gavras
Elenco: Nina Kervel-Bey, Julie Depardieu, Stefano Accorsi, Benjamin Feuillet.
Duração: 99 min
Gênero: Drama

Sinopse
Anna de la Mesa (Nina Kervel-Bey) tem 9 anos, mora em Paris e leva uma vida regrada e tranqüila, dividida entre a escola católica e o entorno familiar. O ano é 1970 e a prisão e morte do seu tio espanhol, um comunista convicto, balança a família. Ao voltar de uma viagem ao Chile, logo após a eleição de Salvador Allende, os pais de Anna estão diferentes e a vida familiar muda por completo: engajamento político, mudança para um apartamento menor, trocas constantes de babás, visitas inesperadas de amigos estranhos e barbudos. Assustada com essa nova realidade, Anna resiste à sua maneira. Aos poucos, porém, realiza uma nova compreensão do mundo.

Fonte: adorocinema.com

sábado, 18 de dezembro de 2010

Natura demite funcionárias lesionadas

A empresa de cosméticos brasileiros Natura, conhecida por propagar ideais de sustentabilidade e bem estar, demitiu no dia 29 de novembro, 29 trabalhadoras e um trabalhador lesionados (as). Vítimas de Lesão por Esforço Repetitivo (LER), doença ocupacional que pode se tornar irreversível, foram demitidos (as) sob alegação de baixa produtividade.

As trabalhadoras e o trabalhador demitidos (as) estavam em processo de realibilitação, atuando em linhas de produção específicas para funcionários em recuperação. As funcionárias e funcionário adoeceram em decorrência de seu trabalho nas linhas de produção da Natura, fato que é reconhecido pela própria empresa, que abriu Comunicados de Acidentes de Trabalho (CAT) para todos os casos.

A denúncia da demissão foi feita pelo Sindicato dos Químicos Unificados, cujo médico. Dr. Roberto Carlos Ruiz, declarou que os casos necessitam de atenção médica especializada, em caráter prolongado. As demissões de funcionários lesionados têm sido recorrentes na Natura, sendo que desta vez ocorreu em maior número. Segundo Paulo Soares, dirigente do Sindicato dos Químicos Unificados, a Natura mostra a verdadeira política escondida sob o marketing da empresa com as demissões. Embora a legislação trabalhista não permita, entre as demitidas estão funcionárias afastadas pelo INSS.

O Sindicato dos Químicos Unificados tomou uma série de medidas para reverter a situação, mas até agora a Natura se recusa a rever as demissões. Uma reunião foi realizada com a empresa, que proibiu a comissão formada por parte das trabalhadoras demitidas de se pronunciar. Hoje (15/12), a comissão está em Brasília junto com representantes do Sindicato para entregar um dossiê sobre a Natura para Marina Silva (Guilherme Leal, dono da empresa, foi seu candidato a vice-presidente nas últimas eleições) e também para parlamentares que fazem parte da Comissão de Relações de Trabalho.

O Sindicato pretende contatar os funcionários contratados pela Natura em outros países, além de entrar com uma ação jurídica contra a empresa e denunciá-la ao Ministério do Trabalho e à OIT (Organização Internacional do Trabalho). Amanhã (16/12), às 10h, haverá mais uma reunião da comissão com o Sindicato.

A empresa

A Natura é líder no mercado de cosméticos no Brasil, conquistando espaço também em países da América Latina e Europa. Recentemente, passou a produzir também na Argentina. Até setembro de 2010, sua receita líquida foi de 3,579 bilhões de reais, uma ampliação de 22,5% em relação ao mesmo período em 2009 (fonte: Brasil Econômico).

Seu crescimento pode ser atribuído a campanhas publicitárias de ampla divulgação midiática, em que estão presentes conceitos como proteção ao meio ambiente, sustentabilidade, responsabilidade social e respeito às comunidades tradicionais. Segundo o site da empresa, a Natura se orgulha de promover “atitudes que fazem diferença para o planeta”, ostenta o slogan “Bem estar bem”, mesmo já tendo sido multada pelo IBAMA por acessar irregularmente recursos da biodiversidade.

Marcha Mundial das Mulheres

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Só pra registrar...

Apesar do Blog não estar assim tãaaao atualizado quanto a gente gostaria ultimamente, vale a pena registrar que possui uma boa média de visitas diárias. Até agora, foram mais de 10.000 visitas, com quase 16.000 visualizações.

Pra quem não vive de fofoca, é uma boa audiência, né?

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Feminismo de luto por Saffioti

Faleceu a professora e pesquisadora feminista Heleieth Saffioti
publicado em 14/12/2010
 
Aos 76 anos, faleceu ontem, 13/12/2010, a professora Heleieth Saffioti, professora, pesquisadora e autora de livros sobre a situação das mulheres, incluindo "Gênero, patriarcado, violência" pela EFPA, em 2004 (o livro está esgotado e terá uma segunda reimpressão (atualizada segundo o novo acordo ortográfico) logo nos primeiros meses de 2011.



Nota de Tatau Godinho* sobre a professora Heleieth

Heleieth Saffioti é conhecida internacionalmente como uma das mais importantes pesquisadoras feministas do país. Seus estudos sobre a situação das mulheres no mercado de trabalho no Brasil, desde a década de 1960, são pioneiros na análise sobre as desigualdades entre mulheres e homens, as diversas formas de opressão e exploração no trabalho. Professora de Sociologia, aposentada, da UNESP, e do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP, nos últimos anos dedicou-se também ao estudo sobre a violência sexista, acompanhando de perto o problema no Brasil, com abordagem teórica sobre a violência de gênero e análise sobre as políticas públicas nessa área. Em sua homenagem, a instituição que desenvolve a política de apoio às mulheres vítimas de violência na cidade de Araraquara, inaugurado pela prefeitura em 2001, foi chamado Centro de Referência da Mulher “Heleieth Saffioti”.

Sempre identificada com posições de esquerda e progressistas, e sem temer a polêmica que as temáticas feministas costumam provocar, Heleith buscou compreender os mecanismos profundos da exploração das mulheres no capitalismo, insistindo com veemência na relação estrutural entre capitalismo, patriarcado e racismo. Sem abrir mão de suas convicções e com sólida formação acadêmica, Heleieth renovava em suas análises as referências teóricas marxistas e a elaboração dos estudos feministas. Como ela sempre dizia, o nó que amarra classe, gênero e raça constroi as dinâmicas de desigualdade na sociedade contemporânea.

Autora de mais de 12 livros sobre a situação das mulheres, estudos sobre gênero e teoria feminista, sua produção é uma contribuição indispensável para a sociologia brasileira. Sem medo de ser considerada uma defensora radical dos direitos das mulheres, a intelectual, pesquisadora e militante feminista, professora Heleieth Iara Bongiovani Saffioti é uma referência obrigatória na história da luta das mulheres no Brasil.

* Tatau Godinho, socióloga, militante do movimento de mulheres e integrante do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo

Fonte: site da Fundação Perseu Abramo

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Entrevista Nalu Faria na Caros Amigos

Psicóloga, coordenadora geral da Sempreviva Organização Feminista (SOF) e integrante da Secretaria Nacional da Marcha Mundial das Mulheres, Nalu Faria é um dos nomes mais importantes do Brasil na questão da luta das mulheres. Feminista e anticapitalista, ela discute, nesta entrevista à Caros Amigos, as principais bandeiras do movimento de mulheres no país, como violência doméstica, equiparação salarial, luta contra o machismo e o direito ao aborto. A falta de atendimento médico e hospitalar adequado tem sido responsável pela morte de mais de 500 mulheres por ano no Brasil, devido a abortos clandestinos. .São mortes que poderiam ser evitadas. O assunto é recolocado na perspectiva da luta histórica da sociedade, diferentemente das distorções que sofreu no último processo eleitoral. Vale a pena conferir o que Nalu Faria tem a nos contar.

Tatiana Merlino - Gostaria que você falasse um pouco da sua infância, até o início da sua trajetória no feminismo.

Hamilton Octavio de Souza - E nome completo.

Nalu Faria – Bom, meu nome é Nalu Faria Silva, eu nasci em Uberaba. Minha mãe morava na roça, e fui para Uberaba só para nascer e voltei. Eu vivi até os 9 anos em um sítio e depois a gente mudou para uma cidadezinha do lado, Água Comprida, onde vivi até terminar, na época, o ginásio.

Tatiana Merlino – Em que ano você nasceu?
Eu nasci em 1958 e vivi lá em Água Comprida até 1974. Aí fui para Uberaba, fiz o colegial, fiz a universidade lá, comecei a militar quando entrei na universidade, em 1978.

Lúcia Rodrigues – Que curso?
Fiz Psicologia. E vim para São Paulo. Tem exatamente 27 anos. Cheguei em São Paulo no dia 21 de outubro de 1983.

Tatiana Merlino - Por que você veio para São Paulo?
Acho que por duas coisas. Uma, porque estava militando em Uberaba. Era militante feminista no movimento estudantil lá. Estava num grupo de mulheres, no Partido dos Trabalhadores, as chamadas fundadoras do PT na cidade. E eu tinha muita vontade de militar. Então, eu achava que Uberaba era pequena. Queria militar e São Paulo aparecia como um bom lugar. Então, isso foi um dos motivos. Militante do PT e formada em Psicologia é difícil o acesso real ao emprego. Então vim para cá.

Tatiana Merlino – Em Uberaba você já começou a militar no movimento de mulheres?
Em Uberaba, a gente comemorou o 8 de março de 1980. Foi o primeiro contato com esse debate. Eu era do curso da Psicologia e lá tínhamos um bom grupo que naquela época estava aberto a esses temas da sexualidade, da discussão das mulheres, éramos briguentas. Nós escutávamos muito: “Pra quê vocês estão estudando se vão casar e ter filhos, pôr o diploma na gaveta, tudo isso”. Então, tinha muitos ataques machistas. O primeiro debate que eu fiz foi sobre aborto, um pouco antes de vir para São Paulo, 1983. Chegando em São Paulo, eu até brincava que tinha muita vontade de militar, mas com o desemprego em 1983, eu costumo dizer que a militância foi a última coisa que eu resolvi. Aqui, fiz várias tentativas de militância até que consegui achar um lugar no movimento de mulheres e, em 1985, eu comecei a militar no movimento de mulheres. E militando de forma cotidiana no PT nos últimos anos, em particular na secretaria de mulheres do PT. Eu fui da secretaria de mulheres do PT até 2004.

Hamilton Octavio de Souza – Antes disso, no final de 1979, a gente tinha aqui em São Paulo alguns jornais do movimento feminista: Nós, Mulheres, Mulherio, Brasil Mulher. Tinha vários grupos feministas. Quando você começou a militar, como era o movimento das mulheres em 1985?
Eu cheguei em um momento bem difícil do movimento de mulheres. Quando eu cheguei, não tinha um espaço de articulação do movimento, porque tinha tido aquilo no período da campanha eleitoral de 1982. A visão dos projetos políticos frente à transição da ditadura marcou dois campos no movimento das mulheres. O setor que era, na época, mais vinculado ao PMDB foi entrando mais para a política institucional, conselhos, e o outro campo de autonomistas, de reflexão, do Nós Mulheres, e outros, se desarticulou. A gente se juntava para organizar o 8 de março, e, justamente nessa época, a gente estava discutindo a importância de ter uma coordenação do movimento de São Paulo para que funcionássemos para além do 8 de março. Mas, a partir de 1986, principalmente, o Encontro Feminista Latino-americano, que teve aqui em São Paulo, em 1985, deu um novo gás, e a partir de 1986 começaram a acontecer várias coisas no movimento de mulheres, para mim, que queria militar com os setores populares, que foi a articulação das mulheres da CUT, que foi em 1986. A gente começa a ir articulando outras coisas nos setores mistos.

Hamilton Octavio de Souza – Quais eram os pontos de luta?
Naquela época, tinha uma agenda forte com relação ao tema que se chamava planejamento familiar. Também tinha os temas da violência e da creche. A gente tinha vindo da campanha por creche, já tinha isso. E um tema genérico de “salário igual para trabalho igual”. Aí, com a Constituinte aparece o tema do aborto. A gente fez um processo de mobilização para colher 30 mil assinaturas, para entrar com uma emenda na Constituinte. Foi o momento que a gente colocou mais a cara na rua, com o tema do aborto. Conseguimos as 30 mil assinaturas e o que nós conseguimos na Constituinte, que o direito à vida, na Constituição, é desde o nascimento.

Hamilton Octavio de Souza - A diferença era entre a concepção e o nascimento?
No movimento das mulheres tinha prevalecido essa visão de não colocar o tema do aborto, porque se pusesse, ia apanhar. Como no anteprojeto vem essa questão do direito à vida desde a concepção, exige-se uma reação do movimento e aí aparece a emenda, a negociação, a mudança do artigo sobre o direito à vida. Depois começa a haver uma articulação das mulheres negras, com um primeiro encontro em 1988. Reaparece o grupo de mulheres lésbicas. A gente teve um Encontro Feminista em 1989, aqui em São Paulo, o 10º Encontro Nacional Feminista. Foi um marco: primeiro a gente saiu de lá com a ideia de fazer uma campanha nacional pela legalização do aborto, que era uma polêmica. Teve debates, oficinas amplas sobre a questão lésbica, do partido. Tinha coisas que também que, por um motivo ou por outro, no movimento feminista eram meio tabu, o partido não entrava, porque era movimento autônomo. Aí, depois nos anos 1990, o movimento de mulheres cai num processo de institucionalização, que a gente chama de aumento das Ongs, um momento que o movimento acompanha muito as agendas da ONU, que é essa idéia do neoliberalismo, débâcle mesmo na discussão no movimento mais de esquerda.

Hamilton Octavio de Souza - Por que afetou? Em que aspecto?
Porque começa com um discurso no movimento de mulheres do impacto da globalização, do neoliberalismo. Primeiro uma ideia de que tinha perdido o papel dos Estados nacionais, que era uma agenda global da ONU e deveria inserir as questões dos direitos ali. Então, isso foi uma coisa que prevaleceu na América Latina e que significou uma profissionalização do movimento das mulheres, as pessoas começam a participar das conferências da ONU. Nossa avaliação, da Sempre Viva Organização Feminista (SOF), setor em que milito na Marcha Mundial das Mulheres (MMM) é que, embora não tenha grandes vitórias para o movimento de mulheres, na segunda metade dos anos 1990, as feministas que investiram nesse processo manejaram com um discurso triunfalista, de dizer que estava alcançando as vitórias; por exemplo, na Conferência do Cairo, que foi a conferência sobre população, entrou o tema do aborto, pela primeira vez, em 1994. Só no final dos anos 1990 que a gente consegue recuperar o fôlego, organizando um setor mais crítico ao neoliberalismo. Aqui no Brasil, nós identificamos como duas coisas: primeira, a vinda da campanha da Marcha Mundial das Mulheres para cá...

Tatiana Merlino - Como a campanha da Marcha chegou?
As mulheres do Quebec começaram a articular a Marcha. Elas tinham feito lá, em 1995, Pão e Rosas, já depois da assinatura do NAFTA, percebendo que ele ia trazer muitos retrocessos para as mulheres. E elas fizeram uma campanha, uma marcha mesmo, de 200 quilômetros e as principais reivindicações tinham a ver com o aumento do salário mínimo, coisas com relação à migração, a economia solidária, os direitos e documentação das imigrantes. E lá surgiu a idéia de ter uma marcha internacional em 2000. Aí elas começaram a articular e criaram essa coisa da internet para a gente aderir. E quem chamou a primeira reunião aqui para definir quem ia para o encontro internacional em 1998, onde a gente definiria a plataforma da marcha, foi a própria CUT, o setor de mulheres. Ela começou como uma campanha, em 2000, contra a pobreza e a violência. Fizemos a marcha em 2000, e teve grande impacto, já desde o seu lançamento, porque era algo articulado, uma campanha nacional que era também internacional. E, na avaliação da marcha, que foi lá em Nova York, depois de 17 de outubro, teve a proposta de continuidade, como um movimento permanente. Foram 163 países que participaram da primeira [marcha]. Hoje nós estamos em 70 países. Então, começamos a articular a marcha como um movimento permanente. A gente se vinculou muito ao processo do Fórum Social Mundial. Fizemos duas ações que ajudaram muito a articular a marcha aqui: o nosso envolvimento na campanha contra a Alca, e a campanha pela valorização do salário mínimo. Outra coisa que foi forte desde o início na marcha foi conseguir articular um movimento que junta mulheres da cidade e do campo.

Hamilton Octavio de Souza - Quais são os pontos de união entre as mulheres do campo e as mulheres da cidade? O que tem em comum de luta?
A gente está vendo mais pontos que unificam. No caso das trabalhadoras rurais, no início do ano 2000, depois de ter conquistado o direito à aposentadoria, o reconhecimento como trabalhadora rural, elas estavam cada vez mais reivindicando políticas em relação, vamos dizer assim genericamente, ao mundo do trabalho. Não só a posse da terra, crédito, e outras coisas que diferencia de movimento para movimento, mas tem uma pauta comum, aí. Mas, é impressionante como, por exemplo, para a trabalhadora rural também toca o tema da violência, o tema da saúde. E, na medida em que a gente está construindo um movimento que olha para esse geral do modelo de desenvolvimento, do modelo de sociedade, os pontos em comum são cada vez maiores. Então, ter uma opinião sobre a política econômica, ter uma opinião sobre a política previdenciária são coisas que nos juntam. A gente tem tentado mostrar que não se constrói soberania alimentar se não, por exemplo, se altera o que é a indústria da alimentação. Os temas que antes não pareciam ter tanto vínculo entre a mulher urbana e a rural, a gente vai mostrando como as coisas estão vinculadas.

Lúcia Rodrigues - Hoje, dá para se dizer que existe uma bandeira das mulheres?
Este é um dos problemas que nós temos no movimento de mulheres. Sempre foi difícil priorizar. O movimento de mulheres, depois foi se organizando muito por temas. Então, tinha a turma que trabalhava o tema da violência, turma da saúde, depois da moradia, sindical. Então, o leque foi se abrindo muito. E isso é uma das dificuldades que a gente tem de construir processos de articulação e mobilização mais ampla, porque tem uma plataforma muito ampla que não consegue definir prioridades por um período. Então, é um movimento multifacetado. Na verdade, nós não somos o movimento de mulheres, somos um setor do movimento de mulheres, no nosso caso da Marcha.

*entrevista completa na revista Caros Amigos.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Direitos Humanos, Tráfico de Pessoas e Exploração Sexual de mulheres, em Belém- Pará-Brasil

Olá, leitoras e leitoras do Mulheres em Marcha! Após breve pausa no blog, veja o bela pedida que divulgamos abaixo:

Convite para Defesa de Dissertação

A Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Direito desta Universidade convida a comunidade acadêmica a prestigiar a defesa de Dissertação da Mestranda Andreza do Socorro Pantoja de Oliveira Smith, intitulada "Direitos Humanos, Tráfico de Pessoas e Exploração Sexual de mulheres, em Belém- Pará-Brasil". Orientação da Profa. Dra. Jane Felipe Beltrão.

Data: 20/12/2010 (segunda-feira)
Hora: 16h
Local: Auditório do ICJ (Altos) - UFPA

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Pelo Fim da Violência contra a Mulher


Hoje é o Dia Latinoamericano pelo Combate à Violência contra Mulher e postamos pra vocês um vídeo comercial sobre a violência doméstica, que apesar de forte, tenta demonstrar a violência cotidiana que as mulheres enfrentam e a realidade que esse crime raramente tem fim.


Pela vida das Mulheres!
Dizemos não a violência contra as mulheres!
A Violência contra a mulher não é o mundo que a gente quer!

Ainda vai levar um tempo, pra fechar o que feriu por dentro*

*Por Rafaela Rodrigues

Hoje, centenas de milhares de mulheres vivem em situação de violência, dentro de suas próprias casas. O feminismo conceitua a violência como toda a vez que mulheres são consideradas coisas, objetos de posse e poder dos homens e, portanto, inferiores e descartáveis.

No Brasil a violência contra a mulher tem estatísticas alarmantes, segundo dados do CEFEMEA – Centro de Estudos Feministas e Assessoria, a cada 15 segundos uma mulher é agredida. 80% dos casos de violência contra a mulher são cometidos por pessoas de seu convívio. Mais de 40% das agressões resultam em lesões corporais graves ou morte.

Outros dados assustam ainda mais: 25% das mulheres são vítimas da violência doméstica; 33% da população feminina admite já ter sofrido algum tipo de violência; em 70% das ocorrências de violência contra a mulher o agressor é o marido ou o companheiro; a violência doméstica é a principal causa de lesões em mulheres entre 15 e 44 anos; os maridos são responsáveis por mais de 50% dos assassinatos de mulheres e, em 80% dos casos, o assassino alega defesa da honra.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), foram agredidas fisicamente por seus parceiros entre 10% a 34% das mulheres do mundo. De acordo com a pesquisa "A mulher brasileira nos espaços públicos e privados" – realizada pela Fundação Perseu Abramo em 2001, registrou-se espancamento na ordem de 11% e calcula-se que perto de 6,8 milhões de mulheres já foram espancadas ao menos uma vez.

Apesar de a Constituição Federal de 1988 ter incluído entre seus princípios fundamentais a igualdade, o que vemos é ainda o descaso do Estado com a violência contra a mulher.

O Movimento feminista trouxe para o espaço público o tema da violência como um problema político que deve ser combatido por toda a sociedade, tirando da intimidade do lar, do espaço privado, de onde sempre foi colocado, e denunciou a situação aterrorizante que as milhares de mulheres vivem enquanto permanecem em violência.

Em 2006 o movimento feminista teve uma grande vitória no combate a violência à mulher, entrou em vigor a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) e pela primeira vez a justiça brasileira pode fazer justiça aos séculos de discriminação e desigualdades que as mulheres enfrentaram.

No entanto, sabemos que medidas punitivas são insuficientes para acabar com a violência sexista, precisamos enfrentar de forma intolerante as desigualdades de gênero e denunciar todas as formas de discriminações que ainda sofrem as mulheres para que possamos conviver sem violência e enfim consagrar o princípio da igualdade.

Mas, assim caminha a humanidade, com passos de formiga e sem vontade, então ainda temos muita luta pela frente!


terça-feira, 23 de novembro de 2010

Luta, substantivo feminino

Estamos organizando aos poucos nossa biblioteca virtual agora é a vez de um livro que já comentamos aqui no blog.

O livro é "Luta, Substantivo feminino" que traz a história de 45 mulheres mortas pela ditadura, e o relato de 27 sobreviventes. 

Agora disponível para baixar na nossa sessão de Materiais.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

#FimdaViolênciaContraMulher



Dia 25 de novembro é o Dia  para prevenir e erradicar a violência contra as mulheres e nós do Blog Mulheres em Marcha estamos na luta pelo #FIMDAVIOLÊNCIACONTRAMULHER


Vamos todos nos unir nessa luta.*
Eu me chamo Juliana, mas podia ser Maria da Penha, Eloá, Eliza Samúdio, Mércia Nakashima ou Sakineh. Estes são alguns dos casos mais conhecidos de violência contra mulher, mas quantas Marias, Anas, Fátimas, Brunas, Lúcias são diariamente violentadas e não ficamos sabendo pois elas têm medo de denunciar a violência que sofrem? Chega! A sociedade civil se organiza e reage contra esse disparate! Pelo fim da violência contra a mulher, vamos em todas as redes sociais da Internet fazer a nossa voz ser ouvida!
Vamos usar no Twitter a tag: #FimdaViolenciaContraMulher. Junte-se a essa luta!


*Retirado do Blog Ofensiva contra o Machismo

domingo, 21 de novembro de 2010

A Troca

Titulo original: Changeling
Lançamento: 2008 (EUA)
Duração: 141 min
Gênero: Drama
Direção: Clint Eastwood
Elenco: Angelina Jolie, Gattlin Griffith, Michelle Martin, Michael Kelly, Frank Wood
Estúdio: Imagine Entertainment, Malpaso Productions e Relativity Media
Roteiro: J. Michael Straczynski
Produção: Brian Grazer, Clint Eastwood, Robert Lorenz e Ron Howard
Música: Clint Eastwood
Fotografia: Tom Stern

Sinopse:
Los Angeles, março de 1928. Christine Collins, uma mãe solteira, se despede de Walter, seu filho de 9 anos, e parte rumo ao trabalho. Ao retornar descobre que Walter desapareceu, o que faz com que inicie uma busca exaustiva. Cinco meses depois a polícia traz uma criança, dizendo ser Walter. Atordoada pela emoção da situação, além da presença de policiais e jornalistas que desejam tirar proveito da repercussão do caso, Christine aceita a criança. Porém, no íntimo, ela sabe que ele não é Walter e, com isso, pressiona as autoridades para que continuem as buscas por ele.

Fonte: adorocinema.com

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Brinquedo de Menina

por Nikelen Witter*

O título aqui poderia ser também a já famosa frase: “sim, nós podemos”. Não a dita pelo presidente norte-americano Barack Obama. Mas a dita pela presidente eleita do Brasil, Dilma Rousseff, a uma menina de 9 anos que lhe perguntou se mulher podia ser presidente da República. Ah, sim menina, nós podemos. Eu mesma lhe diria mais. Diria para que incluísse isso em suas brincadeiras. Uma hora você finge ser professora, noutra médica, veterinária ou advogada. Se quiser ser juíza, delegada ou polícia também pode. É claro que terá vezes em que você irá querer ser princesa ou uma bruxa muito inteligente, mas, acredite, nada no mundo pode impedir você de querer ser presidente da República.

Pode soar estranho que uma menina, em pleno século XXI, apresente uma dúvida assim. Mas, a verdade, é que esse estranhamento está longe de poder ser generalizado. Basta pensarmos na quantidade de manifestações machistas durante essa campanha presidencial e teremos um quadro do quanto as possibilidades ainda se apresentam restritas para o próprio entendimento das meninas. E, acredite, não estou falando apenas sobre aquelas que vivem nas periferias, nos bolsões de miséria, nas que catam comida e recicláveis nos lixos ou caminham quilômetros para poderem abastecer de água suas casas. Estou me referindo às garotinhas de classe média e alta, que estudam em boas escolas (públicas ou particulares), que têm acesso a livros e que escolhem seus brinquedos pelos comerciais que veem na TV.

É justamente nestes espaços de consumo que, ao que parece, uma ativa parte da nossa cultura têm trabalhado para que nossas meninas continuem expostas ao machismo atávico que grassa pelo Brasil. Os limites aos sonhos das garotas entram nas nossas casas mesmo que a gente não queira. Eles estão lá, o tempo todo, dizendo o que é aceitável para uma menina e negando, ao mesmo tempo, que os sonhos delas sejam sem fronteiras.

Estou exagerando? Tem certeza? Você tem prestado atenção nos filmes publicitários veiculados na TV (inclusive nos canais infantis pagos)? Será que ninguém percebe o absurdo de um brinquedo ser uma pia de lavar louças cor-de-rosa que se anuncia: “igualzinha a da mamãe, só que mais divertida”! Qual palavra desta frase não lhe parece ofensiva? A mim todas. E adicione aí o fato de que o comercial não tem meninos. Sim, porque no mundo encantado e cor-de-rosa os meninos sabem que seu lugar não é lavando a louça, mas lavando carro no lava-jato que é igual ao que o papai usa.

Como, pergunto, nossas meninas não vão crescer duvidando que uma mulher possa ser presidente? É difícil achar que uma coisa assim é possível quando, para os “reclames”, veiculados junto com seu desenho favorito, as únicas perspectivas para uma mulher parecem ser uma pia cheia de louça e criar bebês que comem, arrotam, ficam doentes, fazem xixi e cocô? Sim, estas são bonecas que, na maior, parte do tempo são oferecidas a elas. As bonecas que “imitam” a realidade. E você, mamãe, deve comprá-las para que sua filhinha “aprenda brincando”. Afinal, o que seria mais importante para uma futura jovem mulher do que aprender a ser uma boa dona-de-casa, que sabe o melhor sobre alimentação, puericultura e higiene?

Ora, a maternidade é uma coisa maravilhosa, e ser dona ou dono de casa é uma necessidade que não tira nenhuma dignidade de quem faz somente isso. Não haveria problema com os comerciais se eles fossem apenas um ou dois e se o texto fosse menos limitante das capacidades femininas e masculinas. Mas a questão é que as crianças são bombardeadas com brinquedos e textos publicitários cuja intenção parece ser “aliciá-los” (a palavra é forte, mas é essa mesma) para ocuparem os papéis tradicionais da família burguesa ocidental. O fato de não haver grandes manifestações contrárias a este tipo de comercial é preocupante. Já pensaram que pode ser porque, no fundo, as os textos estão é fazendo eco às coisas que não questionamos por parecerem “naturais”? Meninas brincam de cozinhar, lavar louça e cuidar de bebês. Meninos lavam carros, jogam futebol e vídeo-games. Os brinquedos continuam a ser elaborados e vendidos de forma sexista, é assim que nós os compramos, e é assim nossos filhos os absorvem.

Imagino que se alguém se colocar contra isso, vão dizer que a pessoa está clamando pela censura ou sendo preconceituosa com bonecas-bebês e brinquedos que imitam utilidades domésticas. Por isso quero deixar bem claro que não acho que as bonecas em si estão erradas. O que me incomoda é o texto com o qual elas são apresentadas e o subtexto que, ao invés de incitar as meninas a desejarem o mundo, sugere que o paraíso está em ter uma cozinha super equipada.

Por outro lado, não estou fazendo um tipo de apologia que diz que o mundo seria melhor com mais mulheres no comando. Não considero que as mulheres que exercem cargos públicos (ou que venham a desejar isso) façam, por serem mulheres, governos melhores que os dos homens. A quase ex-governadora do Rio Grande do Sul é um exemplo de que um governo ruim e autoritário pode vir de qualquer lado.

Minha oposição é contra tudo o que se organiza de forma a limitar os sonhos e os horizontes das crianças. Um fogãozinho pode ter meninos figurando no comercial (muitos meninos se interessam por cozinhar). E também a pia poderia ser vendida para eles, pois é igual a que todo mundo tem em casa. Em outras palavras: a pia não é da mamãe. Se as coisas continuarem nesse caminho, logo teremos organizar defesas para a Barbie. Afinal, os machistas de plantão ainda não se deram conta de que ela, embora fútil, sempre foi uma profissional. Ela namorou o Ken por 40 anos antes de eles terminarem o relacionamento. E agora, dizem que ela foi vista saindo com Max Steel. Garanto que logo vai aparecer alguém falando que ele é jovem demais para ela e que, aos cinquenta, ela deveria era aprender a fazer geléia.

* Professora e historiadora
Publicado em contramachismo.wordpress.com, em 11/11/10.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Políticas para mulheres e mulheres na política

Postamos aqui a entrevista de Tatau Godinho, companheira e militante da MMM, para a Carta Capital. Na entrevista Tatau faz uma análise da situação da mulher na política, fala sobre desigualdade de gêneros e da postura da oposição diante de uma mulher na presidência.


Desde o início da campanha eleitoral Dilma Rousseff gerou uma expectativa entre as mulheres brasileiras em relação à questão feminina na política. Passado o segundo turno e conhecido o resultado, o Brasil ganha uma mulher como presidente, a primeira da história, eleita com 56% dos votos válidos contra 44% para o oponente José Serra.
Para fazer uma análise dos ganhos da população feminina com a eleição de Dilma à presidência, o site de CartaCapital entrevistou a cientista social dedicada à temática do feminismo e política, Tatau Godinho. Ela acredita que “as questões relacionadas aos direitos das mulheres vão ser colocadas na agenda política de forma muito mais cotidiana”. Mas isso também depende de uma presença mais forte do movimento de mulheres para que sejam feitas mudanças no sentido progressista. E avisa: “o campo da oposição provavelmente se apoiará em uma agenda conservadora em relação aos direitos das mulheres, como já ocorreu nas eleições.”

CartaCapital: Como você vê a situação da mulher hoje na política em termos de participação e de políticas voltadas ao gênero feminino?
Tatau Godinho
: A presença das mulheres na política tem aumentado nos últimos anos. Em termos de políticas públicas, questões específicas voltadas à saúde das mulheres, o combate à violência e mesmo uma ampliação nos horizontes profissionais têm sido alvo de atenção dos governantes. Mas uma alteração mais profunda nas desigualdades entre homens e mulheres ainda está por vir.
Quanto à participação, no entanto, os espaços da política mais institucionalizados ainda são um gueto masculino. Fala-se muito na necessidade da presença das mulheres, mas o fato é que direções dos partidos, no parlamento, nos cargos executivos e de direção, as mulheres ainda aparecem como uma exceção.
E isso reflete uma realidade presente em, praticamente, todas as outras áreas da sociedade. O comando das empresas, as direções dos jornais, de outros meios de comunicação, por exemplo, ainda são lugares onde a presença das mulheres é quase simbólica.

CartaCapital: Existem mais mulheres que homens no Brasil, a mulher é responsável, em muitos casos, pela educação dos filhos, tem contribuição efetiva na sociedade, tem um dia internacional dedicado a ela. Por que quando se trata de política tudo isso parece se reduzir?
TG
: A ampliação da presença das mulheres no mundo público, isto é, fora do âmbito da família, continua totalmente vinculada a uma sobrecarga colocada sobre elas em relação ao cotidiano, à vida familiar, ao cuidado com as pessoas. As mulheres assumem novas tarefas, mas muito pouco se alterou nas relações de poder. E a política é o espaço concentrado das dinâmicas de poder na sociedade. É ali que são definidos boa parte dos grandes grupos de interesses, dos destinos dos países. Obviamente, as disputas políticas não ocorrem apenas nos espaços tradicionais ou institucionais. Mas é um sintoma da fragilidade da democracia a exclusão tão recorrente das mulheres.

CartaCapital: Quais os avanços poderão ser conquistados pelas mulheres, na política, com a eleição de Dilma Rousseff à presidência da República?
TG: Sem dúvida uma mulher na Presidência da República já representa, de saída, uma quebra de barreiras. O principal cargo político do país é uma referência necessária para os debates, as articulações políticas, para as mais diversas áreas em torno das quais a sociedade se mobiliza. Tem uma influência importante, também, no imaginário social em relação às mulheres. Mas as mudanças mais concretas, em termos de políticas, dependem da insistência que a presidenta tiver em fortalecer uma agenda voltada para a igualdade. As questões relacionadas aos direitos das mulheres vão ser colocadas na agenda política de forma muito mais cotidiana. E é muito importante uma presença mais forte do movimento de mulheres para que isso seja feito em um sentido progressista. O campo de oposição, provavelmente, se apoiará também em uma agenda conservadora em relação aos direitos das mulheres, como já ocorreu nas eleições. Por isso, para garantir um avanço, acredito que seja necessário que a sociedade se mobilize no sentido de possibilitar um efetivo avanço de direitos. Dilma Rousseff tem um histórico de atuação rompendo espaços em áreas muito fechadas às mulheres e, acredito, que isso dará a ela uma boa experiência de como lidar em um ambiente adverso.

CartaCapital: O que muda na bancada feminina no Congresso com a eleição de Dilma?
TG:
As deputadas e senadoras têm uma oportunidade inédita de fortalecer sua voz no Congresso. Mas é preciso se apoderar dos sinais indicados pela futura presidenta, de que valoriza o aumento da participação política das mulheres, e consolidar novas lideranças nas disputas concretas que compõem o dia a dia do Congresso. Esse é um momento privilegiado para que as parlamentares mulheres reforcem sua presença e, mais especialmente, para que a bancada feminina apareça como uma forte articuladora de reivindicações de políticas que incidam sobre a desigualdade entre mulheres e homens. Para isso é necessário que a atuação se paute por uma plataforma ampla, que não fique apenas em temas de menor incidência, ou nas áreas que são consideradas tradicionalmente mais receptivas à participação das mulheres. Há questões fundamentais em relação ao mundo do trabalho, no âmbito da política econômica e de desenvolvimento, da previdência, ou a reforma política e partidária, como mencionado anteriormente, que são muito importantes. Isso vai depender da atuação das parlamentares comprometidas com essa agenda. Ampliar o número de mulheres é muito importante, mas mudanças reais para as mulheres só ocorrerão se isso se combina com uma agenda de propostas e reivindicações para alterar as condições de desigualdade e discriminação vividas pelas mulheres.

CartaCapital: Em reunião de transição dos ministérios na segunda-feira 8, Dilma anunciou que quer mais mulheres no primeiro escalão do governo. O que achou dessa atitude da presidente?
TG:
É muito positivo que Dilma tenha acenado, logo de início, com a importância de ter uma presença maior das mulheres em cargos chaves do governo. Com certeza os partidos vão resistir. Afinal, dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. Nem na física nem na política. E a concentração masculina nas redes de direção é brutal. Não são apenas os dirigentes partidários. Isso inclui os quadros do parlamento, das direções sindicais, das universidades ou outras entidades da sociedade. A insistência da presidenta em compor um governo com maior presença de mulheres obrigará os partidos, e toda a sociedade, a discutir a questão.
Em outros países, houve um processo semelhante. Como na Espanha, por exemplo. E isso cria, de fato, possibilidades de mudanças.

CartaCapital: Falando de gênero, para você as mulheres são iguais aos homens, têm necessidades específicas ou lhes faltam alguns privilégios concedidos aos homens?
TG: Quando se fala em igualdade entre mulheres e homens, o sentido é a igualdade social e política. É evidente que na sociedade os homens têm imensos privilégios em todos os âmbitos: renda mais alta, acesso a melhores postos e empregos, mais tempo de lazer, dominam os espaços de poder político e econômico na sociedade. E isso se articula com todas as vantagens que têm no campo da vida pessoal e familiar, em relação ao cuidado com os filhos, ao trabalho doméstico, e nas questões ligadas à sexualidade. É isso que é preciso mudar. Há um pensamento conservador que atribui às mulheres um papel centrado na maternidade e na família. Isso é cultivado. É um mecanismo que justifica a falta de responsabilização masculina. Assim os homens ficam livres para o poder, enquanto as mulheres cuidam da sobrevivência. É essa a divisão que precisa ser superada na sociedade. Naturalizar o papel das mulheres na família, na maternidade, nas funções do cuidado é negar às mulheres a posição de igualdade e racionalidade e, em última instância, deixar as funções de direção e poder efetivos da sociedade, a elaboração da cultura e da ciência para os homens.

CartaCapital: Chegaremos a um dia em que a desigualdade de gêneros será superada?
TG:
Eu acredito que sim. Para uma superação efetiva das desigualdades é preciso uma mudança mais geral. A sociedade capitalista absorve e rearticula as relações de dominação compondo uma dinâmica de desigualdade que favorece a exploração, a concentração de renda, a manutenção de padrões de opressão em diversos níveis. A superação da desigualdade de gêneros é uma perspectiva libertária, de uma sociedade livre com seres humanos vivendo em plenitude suas capacidades. E isso exige a mudança do modelo de sociedade atual, em que as desigualdades são parte da organização necessária das relações sociais. Mas isso não significa jogar as reivindicações para um futuro distante e abstrato. É preciso investir para que as mudanças sejam implantadas desde agora. Toda mudança é um processo político e social que envolve também conflitos. E nós não podemos deixar de enfrenta-los.

CartaCapital:Qual tem sido a importância da Secretaria de Políticas para Mulheres desde a sua criação?
TG
: A criação da Secretaria de Políticas para as Mulheres foi uma iniciativa muito importante do governo. Ela buscou construir uma agenda para todo o governo. Em algumas questões, como a proposta de implantar uma política de combate à violência sexista, os avanços são mais claros. Em outras áreas, ainda há muito o que fazer. Os esforços da SPM em coordenar um plano geral de políticas para as mulheres são significativos e as dificuldades são muito grandes. É necessário uma consolidação maior dessa política no próximo governo.

CartaCapital: Como você acredita que a sociedade brasileira enxerga a falta do primeiro cavalheiro ao lado de Dilma?
TG
: Essa é uma discussão que demonstra o grau de conservadorismo na sociedade. Afinal, a discussão só existe porque os espaços de poder são considerados lugares para os homens e não para as mulheres. O cargo de primeira-dama é a pior simbologia do atraso em relação às mulheres: significa que o lugar para elas é de esposa, e não de dirigente. É a reafirmação de que para as mulheres o espaço legítimo é o mundo privado e não a esfera pública, como é o caso da política. Além do mais, isso ainda se combina com o clientelismo que enxerga a política de assistência social como caridade e não como direito!
Chama a atenção o quanto mesmo os setores pretensamente mais modernos da sociedade reforçam esse papel e esse lugar para as mulheres. E, inclusive, criticam as mulheres que se recusam a aceitar esse papel. Que, sendo mais informal, é tudo de atrasado, de medíocre e de “brega”.
Uma mulher na presidência tem, além de tudo o mais, a vantagem de nos livrar dessa discussão.

CartaCapital: Chamar Dilma de presidente ou presidenta faz diferença?
TG: É uma questão simbólica. Não é decisiva mas possibilita marcar o significado da eleição de uma mulher para a presidência. E forçar um pouquinho a Língua Portuguesa a se adaptar a um mundo de homens e mulheres também nos cargos, carreiras e funções antes ocupados apenas por homens.

Por Paula ThomazFonte: Carta Capital

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Gênero, Feminismos e Ditaduras no Cone Sul

Aos poucos, vamos alimentando nossa biblioteca virtual, que ficará devidamente organizada na sessão "Materiais". A pedida de hoje é o livro "Gênero, Feminismos e Ditaduras no Cone Sul", organizado por Joana Maria Pedro e Cristina Scheibe Wolff.

Baixe o livro aqui!!!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A felicidade em pequenas doses

Gente, o textinho abaixo é da Sarah de Roure, Sarinha de Brasília (ou agora seria de SP? rsrsrs), publicado no seu Blog pessoal amasseefacapao.blogspot.com.

Vamos falar a verdade: que atire a primeira pedra a feminista que nunca quis viver "um dia de fúria" ou se viu a "beira de um ataque de nervos" diante das receitas milagrosas de juventude eterna e de felicidade plena. Você sabe exatamente do que estamos falando.


Ah, O Mulheres em Marcha também curtiu o comentário ao texto da Sarah e publicou. Confira!



"Tenho certeza que ficará muito feliz com o resultado!" Foi o que me disse de forma inocente a vendedora de uma loja ao me dar uma mostra grátis de um creme para firmar o busto.

Exatamente, para firmar o busto!!!

Para o mundo que eu quero descer!!!

Porque eu, ou qualquer outra mulher precisa de um creme para firmar o busto?

E porque aquela vendedora inferiu que isso me faria feliz?!!

Meu Deus eu só queria comprar um batom, não estava buscando a fonte da juventude em pequenas mostras grátis!!

Podem dizer que nós feministas somos chatas, eu prefiro achar que chato é esse mundo que prega para os quatro ventos, que tem um padrão para todas as mulheres.

Se voce tem 20 anos, melhor começar se cuidar, prevenir sabe....Afinal quando acha que as rugas começam a aparecer?

Chegando nos 30, bom aí já é uma zona de perigo, afinal a tal gravidade atinge a todas fofa!! melhor cuidar desse peitinho porque nao vai durar muito viu! Para vc temos esse creminho que junto com esse outro óleo, usado 5x ao dia trará resultador inimagináveis pela modica quantia de..XYZ. Nada que vc não possa pagar com o crediário especial de nossa loja!!

Bom a partir do 40... serão necessarias intervenções mais drasticas. Mas não se preocupe vai ficar super natural...

Natural, é envelhecer com dignidade.Natural é a beleza que existe em cada uma de nós, de diferentes cores, tamanhos, gostos...

Bonito é ser livre. Bonita é a verdade e não as mentiras que nos vendem em suaves parcelas ou embaladas em pacotes brilhantes.

Comentário de Fernanda dijo...

Posso te contar? Outro dia um rapaz correu atrás de mim para entregar um panfleto. Ele dizia, "isso vai te interessar, pegue!". Peguei, era tanta insistência... Quando olho, para meu espanto e surpresa, era um panfleto de clínica de cirurgia plástica vaginal!!!! Ah, voltei até o moço, e indignada perguntei: de onde vc tirou a ideia de que preciso fazer plástica na minha xoxota?!?!?! Pois é a mesma situação para os cremes para busto, bunda e tudo o mais... Mais uma vez vamos lá gritar: Somos mulheres não mercadoria, porra!

sábado, 13 de novembro de 2010

Nota da CUT contra apelo sexual em propaganda dos Correios

Central critica publicidade com apelo sexual dos Correios

É com indignação que assistimos ao anúncio publicitário dos Correios, veiculado nacionalmente, no qual uma modelo tira a blusa na frente de várias crianças, sob o pretexto de conseguir um autógrafo de um famoso jogador de futebol de salão.

Tal anúncio, além de violar o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente utiliza-se do apelo sexual do corpo das mulheres para supostamente atrair a atenção para o produto comercializado.

É inaceitável que os Correios, ainda mais por se tratar de uma empresa pública, reproduzam a idéia contida também em inúmeros outros anúncios, que comparam, ou melhor, igualam o corpo das mulheres a um objeto para vender mais mercadorias e aumentar o lucro das empresas.

A CUT, maior Central Sindical da América Latina, ciente da responsabilidade que tem com milhões e milhões de trabalhadores e trabalhadoras que não aceitam o machismo, seja qual for sua manifestação, reafirma seu compromisso com a consolidação de um Brasil justo, democrático e com igualdade entre homens e mulheres. Repudiamos este anúncio, exigimos a imediata retirada de sua veiculação assim como uma ação do Governo para que casos semelhantes não voltem a ocorrer.

Rosane Silva
Secretária Nacional da Mulher Trabalhadora da CUT
Artur Henrique
Presidente Nacional da CUT
Fonte: CUT Brasil, em 12/11/10.

O que vocês acharam?

E aí, povo? O Blog ficou mais bonitinho? Nós achamos que sim!

Nossa "artista", responsável pela bela mudança, foi a Rafaela (do Direito). Aliás, ela tem feito as últimas grandes alterações no Mulheres em Marcha, o que tem deixado ele cada vez mais bacana.

Vale ressaltar que estamos sempre abertas a sugestões (e elogios também! kkkk).

Bom feriadão pra vocês!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Mais notícias amigas

Povo, corrigindo uma falha nossa, incluimos na sessão "Notícias Amigas" o Blog Maria Maria, Mulheres em Movimento. A autodescrição do grupo é a seguinte "é um coletivo feminista formado, em agosto de 2006, por jovens que sentiam a necessidade de criar um espaço de discussão e atuação sobre questões referentes aos direitos das mulheres. Em 2007, nos tornamos um núcleo da Marcha Mundial das Mulheres em Juiz de Fora (MG)."

É super bacana e está sempre atualizado com texto escritos por elas, ações feministas promovidas na cidade e agenda de reuniões. Dá uma olhada lá!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Entre alegrias e tristezas

Por Carol Radd

Acabamos de eleger a primeira mulher para o cargo de presidente do Brasil, Dilma Rousseff. A primeira coisa que me vem a cabeça quando penso nisso é no avanço dessa conquista e me emociono ao lembrar da frase muito usada por nós feministas “Lugar de mulher é na política”. Mas minha alegria dura pouco, basta eu entrar em algum jornaleco na internet ou blog de humor, ou mesmo sentar em uma mesa de bar como alguns homens nada 'esclarecidos' que meu momento de alegria passa e me vem um sentimento de indignação. E eu me coloco a refletir acerca de um trecho de Simone de Beauvoir em “O Segundo Sexo”, meu livro de cabeceira, que diz que enquanto as mulheres não se verem enquanto sujeitos, não tiverem um sentimento de nós enquanto mesmo, a relação de opressão não mudará e elas serão sempre o outro. Pois não existe um nós mulher como ocorre em outras relações de opressão, salvo algumas raras organizações feministas, as mulheres nunca conquistaram nada, a não ser aquilo que seus opressores quiseram dar a elas, assinala Beauvoir.

Esse trecho me angustia, me da náusea, pânico, desespero... até quando vai ser assim? Até quando essa sociedade machista vai nos agredir, vai nos impor comportamentos, esteriótipos. Será que agora que temos uma mulher na presidência conquistaremos respeito? Tenho medo da resposta, essa campanha suja e maldosa, incentivou a falta de respeito até pela presidenta, me corria ao ver as campanhas da oposição dizendo que ela não tinha história, não tinha potencial nem competência, tinha uma que a porta de um estabelecimento fechava e um homem dizia “a única vez que ela não teve um chefe teve que baixar as portas”, ou algo parecido com isso, nojo.

Depois de uma charge no inicio da campanha ter relacionado a atual presidenta eleita a uma garota de programa, desrespeitando não só a candidata como a todas as mulheres, o debate preconceituoso e agressivo em torno da legalização do aborto e da união civil de pessoas do mesmo sexo, e no segundo turno o candidato pelo PSDB ter pedido as “mineiras bonitas” que consigam voto para ele, entre outras coisas machistas, absurdas e preconceituosas que se ouvia por ai. Deparei-me ontem com algo que considero absurdo, piadas abusivas, desrespeitosas e machistas, em uma página de um “humorista” que descreve seu humor como “de prima pra deixar a vida masculina ainda melhor” que medo do que vem abaixo. O cara “super engraçado” enumera as 10 primeiras medidas que serão tomadas pela primeira presidenta mulher da história do Brasil, e faz piadas com os planos de governo relacionando com esteriótipos atribuídos a mulheres. Com relação a saúde da mulher por exemplo, o projeto a ser implantado é implante de botox e silicone (HORRIVEL!!!!!!), o PAC, vira programa de aceleração do casamento (TOSCO!!!), dentre outras coisas absurdas. A postagem ridícula, veio seguida de vários comentários que apoiavam o autor e agrediam aqueles que deixaram seu comentário criticando a piada. Chamando homens que se posicionou contra de “bichona” e as mulheres de feministas-sem-causa, sem senso de humor, chatas, feias e encalhadas, um deles inclusive teve a audácia de perguntar “Quem será a primeira dama que vai morar com ela no Palácio Alvorada?”. Será mesmo que são as feministas que não tem senso de humor, ou as pessoas que perderam completamente a noção de respeito? Só pra constar, o meu mal humor eu costumo chamar de senso crítico. Não tenho nada contra o humor, só não rio de piadas sem graça.

Me retorci resto do dia inconformada com tamanha agressão, à presidenta, às mulheres, e às feministas. Até quando nós mulheres vamos ter que carregar esses estigmas? Ouvir que política é coisa de homem, que a mulher tem ser meiga, delicada e sensível? Até quando fatores biológicos vão ser usados para justificar a diferença no plano político e no dos direitos? Que as características femininas específicas (absurdo!!!) a impedem de participar do mundo público, tendo esta como função a família e os filhos, que mulher que não tem filho não se realiza? (essa me dói).

Mas em uma campanha que se fez como base o machismo, o preconceito e a violência teve como paradoxo duas mulheres candidatas e uma delas eleita para ocupar o cargo mais alto do poder executivo. Fato este que é sim um avanço importante, e estou orgulhosa e feliz tanto por ter participado como principalmente contribuído nesse processo. E fica a mensagem, não basta elegermos mulheres, elas tem que nos representar, e Dilma me representa, é uma mulher que ao contrario do que dizem por aí, traz na bagagem toda uma história de luta e de coragem. E é essa sua coragem que vai servir de exemplo para as mulheres, para esquerda que acredita da democracia e no socialismo, e nos incentiva a continuar lutando, porque o caminho ainda é longo e dolorido, e temos muito o que conquistar, conquista que mesmo se cedida pela cultura patriarcal, será um premio da vitória da luta das mulheres, porque agora, nós também fazemos a história.

Carol Radd é graduada em Direito e em Filosofia, militante feminista. Este texto foi publicado no Blog mariamariamulheresemmovimento.blogspot.com

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Absurdamente - "Rodeio das Gordas"

Alunas obesas foram humilhadas em jogos estudantis no interior de São Paulo. Mais um lamentável epsódio de preconceito contra as mulheres.
"Os dois estudantes suspeitos de criar, difundir e incentivar o “rodeio de gordas”, que consistia em agarrar e montar em alunas obesas durante os jogos entre alunos da Unesp, no mês passado em Araraquara, no interior de São Paulo, foram ouvidos na manhã desta terça-feira (9) pela comissão que integra a sindicância da Universidade Estadual Paulista.
A diretoria da Faculdade de Ciências e Letras do Campus de Assis instaurou em 26 de outubro processo administrativo disciplinar contra os dois estudantes, também de Assis, após denúncias de bullying a universitárias consideradas acima do peso. Elas foram agredidas e humilhadas entre os dias 9 e 12 de outubro no Interunesp. Um aluno do curso de engenharia biotecnológica e um de ciências biológicas são citados pela Unesp suspeitos de criar a "brincadeira".  [...]
Segundo relatos, no "rodeio das gordas", alunos se aproximavam das garotas fazendo perguntas, como se fossem paquerá-las. Depois, agarravam as garotas, de preferência obesas, e tentavam ficar sobre elas o máximo de tempo possível, como se estivessem em um rodeio. Ao menos 50 estudantes participaram do "jogo".
Os agressores usaram a comunidade no Orkut para incentivar que os estudantes cronometrassem o tempo que mantinham a garota presa e para sugerir premiações para quem ficasse mais tempo sobre a menina. Há relatos de que os estudantes gritavam, dizendo "pula, gorda bandida".[...]
Em nota, a Unesp informa que “decidiu instaurar processo disciplinar para que sejam tomadas as medidas cabíveis em relação a fatos que teriam envolvido membros de seu corpo discente em jogos organizados por entidades estudantis". "A medida será oficializada ainda nesta semana, com a colaboração da Assessoria Jurídica da Reitoria.”[...] A Unesp afirma ainda na mesma nota que “repudia práticas de desrespeito entre membros de sua comunidade [...]
No caso de uma eventual punição aos alunos, eles podem ser advertidos, suspensos ou até expulsos da instituição.

Ministério Público
[...]Procurada para comentar o assunto, a promotora Noemi Corrêa, informou por e-mail que o Ministério Público instaurou inquérito civil para apurar a responsabilidade da Unesp e da Liga Interunesp nos fatos. “A prática denominada Rodeio das Gordas caracteriza uma violação dos Direitos Humanos, ante o preconceito com relação às pessoas que não se enquadram no padrão de peso imposto pela mídia e pela sociedade”, disse a promotora.


Vítimas
A advogada Fernanda Nigro, da organização não-governamental de direitos humanos Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Sexualidade (Neps), que acompanha o caso, diz ter identificado duas alunas vítimas do “rodeio das gordas”. Uma é estudante do curso de letras e outra de psicologia no campus da Unesp em Assis.
“Elas estão com medo. Estou conversando com elas para elas falarem”, afirma Fernanda, que irá perguntar às universitárias se elas pretendem mover alguma ação por dano moral contra os agressores."
Matéria na íntegra(  http://g1.globo.com/vestibular-e-educacao/noticia/2010/11/alunos-suspeitos-de-criar-rodeio-das-gordas-sao-ouvidos-na-unesp.html)

Kléber Tomaz
G1 SP

Taiunesa dá festa para casar consigo mesma

TAIPÉ, Taiwan (AFP) - Uma taiuanesa informou neste domingo que se casou consigo mesma depois de oferecer um banquete de casamento.

Chen Wei-yi, 30 anos, virou sensação na internet depois que anunciou seus planos de "autocasamento" no mês passado. A cerimônia aconteceu no sábado, num hotel de Taipé, e contou com a presença de 30 parentes e amigos.

"Casar comigo mesma é uma forma de mostrar que sou confiante e que me aceito como eu sou", declarou Chen, que trabalha num escritório.

"Devemos nos amar antes de podermos amar os outros. Eu devo casar comigo antes de casar com alguém especial", acrescentou.

A iniciativa de Chen ganhou adeptos em sua página no Facebook.

As autoridades taiuanesas afirmaram que muitas mulheres agora preferem se casar mais tarde ou ficar solteira, o que faz com que os índices de nascimento da ilha sejam um dos menores do mundo.

Fonte: Yahoo Notícias (07/11/2010)
Foto: AFP

domingo, 7 de novembro de 2010

Imagine Eu e Você

Título Original: Imagine Me And You
País de Origem: EUA / Inglaterra / Alemanha
Gênero: Comédia
Tempo de Duração: 92 minutos
Ano de Lançamento: 2006
Estúdio/Distrib.: Imagem Filmes
Direção: Ol Parker
Elenco: Piper Perabo, Lena Headey, Matthew Goode, Celia Imrie, Anthony Head e Darren Boyd

Sinopse:
O executivo Heck e a bela Rachel formam um jovem casal prestes a dizer sim, quando um encontro inesperado vira o mundo dela de cabeça para baixo. Não culpe a moça! E se você descobrisse que a pessoa que foi feita para passar o resto da vida ao seu lado, não é aquela que está com você? Uma história hilária com um pitada de encontros e desencontros, bem comuns aqueles que já se aproximaram à primeira vista. Imagine Eu e Você mostra que o caminho do amor nem sempre é aqueles que imaginamos. Mas é trocado de um jeito ou de outro.

Fonte: interfilmes.com

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Artigo: Gravidez indesejada

"De um momento para outro, a campanha para Presidente da República trouxe à tona, com indisfarçável caráter plebiscitário, a inquietante pergunta: você é a favor ou contra o aborto? Naturalmente, à falta de um debate mais profundo sobre esse complexo tema, as respostas foram ambíguas. Em meio ao fervor religioso no qual o assunto foi atirado, deixou-se de fazer a pergunta pelo ângulo que de fato interessa às mulheres (a quem o assunto diz respeito mais diretamente) e toda a sociedade. Qual seja: como evitar uma gravidez indesejada? Qual a política de saúde pública o (a) candidato (a) vai imprimir para evitar os abortamentos de gestações não desejadas?

Este é o ponto.

Há algum tempo foi exibido , no circuito de cinema cult de São Paulo, o excelente e didático filme romeno "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias" , que expõe de forma dramática os danos causados pelo Estado em especial às mulheres, quando razões ideológicas - ou supostamente morais - tentam se sobrepor às razões de saúde pública. Até os anos 80, a Romênia socialista reconhecia a prática do aborto e prestava assistência médica regular às mulheres, até que, repentinamente, a pretexto de retomar o crescimento vegetativo, relegou ao sexo feminino o ancestral papel de mero procriador e transformou o assunto em caso de polícia, proibindo-o. Não é de estranhar que a reação das romenas fosse acorrer às clínicas clandestinas de aborto, mesmo pagando um tributo altíssimo de vidas. Só diante dessa tragédia é que o governo recuou, liberando o aborto novamente a partir dos anos 90.

Emblemático, esse exemplo mostra que, legal ou ilegal, a prática ocorre quando a gravidez não é desejada pela mulher. É a única arma de que ela dispõe, aqui e alhures, ante a violência praticada pelo sexo oposto, no caso do estupro, ou mesmo pela própria natureza, que não lhe oferece outra saída que não seja a concepção. Isto vale para qualquer sociedade que penaliza o abortamento pura e simplesmente, sem oferecer uma alternativa diante de uma gravidez indesejada.

Se as perguntas aos candidatos tivessem se voltado para as políticas públicas que cada um deles pensasse em  adotar nesses casos, provavelmente o aborto deixaria os emotivos palanques e receberia o tratamento e fóruns adequados para discussão.

Sua abordagem é complexa e obviamente não se presta a interpretações apressadas, sobretudo em um país como o nosso. No Brasil, o Código Penal de 1940 criminaliza o aborto e determina penalidades severas tanto para a mulher que o pratica como para o médico ou qualquer pessoa que facilite esse crime. A exceção são os casos de estupro, risco de vida da mãe e anencefalia do feto, com aval da Justiça.

Estatísticas da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam a ocorrência de 55 milhões de abortos anualmente em todo o mundo, sendo 6 milhões na América Latina e 3 milhões no Brasil - a metade de todo o continente. Ou seja, expõem uma burla sistemática na legislação vigente, envolvendo, além das próprias gestantes, médicos aventureiros, farsantes ou curandeiros, não importa. Importa é que milhões de vidas são rotineiramente submetidas a um risco que poderia ser evitado. As consequências derivadas dos abortos clandestinos é a terceira causa da mortalidade de mulheres em nosso país.

É imperioso pensar, repensar e discutir a questão com racionalidade e - por que não? - uma boa dose de tolerância, pois qual valor daremos ao sofrimento de tantas e tantas mulheres que, por diversas razões, têm de se submeter à degradante circunstância da ilegalidade do aborto, com todos os seus riscos e efeitos de ordem física e moral? Que educação sexual o Estado oferece, quais métodos contraceptivos mais efetivos podem ser disponibilizados para evitar a gravidez indesejada, quais as campanhas e de que forma elas podem ser realizadas em uma sociedade com profundo senso religioso a ser considerado?

Estas perguntas reclamam resposta. Oferecer a uma nova geração mulheres educação de qualidade e democratizar o acesso a métodos contraceptivos para enfrentar o problema da gravidez indesejada é necessário e urgente; ao mesmo tempo, não se deve impor, pela via Penal, um padrão de conduta baseado em valores religiosos - pessoais e inabaláveis, sim, mas que dizem respeito a cada indivíduo - para jogar na vala comum da marginalidade milhões de mulheres que arriscam a própria vida em nome da liberdade de escolher".


O artigo "Gravidez indesejada" é de autoria da secretária-geral adjunta do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Márcia Regina Machado Melaré.

Fonte: oab.org.br

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

500 anos esta noite

De onde vem essa mulher
que bate à nossa porta 500 anos depois?
Reconheço esse rosto estampado
em pano e bandeiras e lhes digo:
vem da madrugada que acendemos
no coração da noite.

De onde vem essa mulher
que bate às portas do país dos patriarcas
em nome dos que estavam famintos
e agora têm pão e trabalho?
Reconheço esse rosto e lhes digo:
vem dos rios subterrâneos da esperança,
que fecundaram o trigo e fermentaram o pão.

De onde vem essa mulher
que apedrejam, mas não se detém,
protegida pelas mãos aflitas dos pobres
que invadiram os espaços de mando?
Reconheço esse rosto e lhes digo:
vem do lado esquerdo do peito.

Por minha boca de clamores e silêncios
ecoe a voz da geração insubmissa
para contar sob sol da praça
aos que nasceram e aos que nascerão
de onde vem essa mulher.

Que rosto tem, que sonhos traz?
Não me falte agora a palavra que retive
ou que iludiu a fúria dos carrascos
durante o tempo sombrio
que nos coube combater.
Filha do espanto e da indignação,
filha da liberdade e da coragem,
recortado o rosto e o riso como centelha:
metal e flor, madeira e memória.

No continente de esporas de prata
e rebenque,
o sonho dissolve a treva espessa,
recolhe os cambaus, a brutalidade, o pelourinho,
afasta a força que sufoca e silencia
séculos de alcova, estupro e tirania
e lança luz sobre o rosto dessa mulher
que bate às portas do nosso coração.

As mãos do metalúrgico,
as mãos da multidão inumerável
moldaram na doçura do barro
e no metal oculto dos sonhos
a vontade e a têmpera
para disputar o país.

Dilma se aparta da luz
que esculpiu seu rosto
ante os olhos da multidão
para disputar o país,
para governar o país.

(Pedro Tierra)
Brasília, 31 de outubro de 2010.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Dilma, nossa presidentA!

Ainda falaremos muito sobre o que significa a eleição da primeira mulher presidenta do Brasil, mas, o que queremos registrar é a felicidade de viver este momento e ouvir no discurso de Dilma seu compromisso com o avanço da igualdade entre homens e mulheres.

Infelizmente, no Pará ganhou a eleição para o Governo do Estado o representante do projeto neoliberal do PSDB, Simão Jatene. Estaremos na luta para que não haja retirada de direitos, precarização de serviços públicos, nem privatizações.

sábado, 30 de outubro de 2010

Contra o machismo tucano.

O candidato à presidência José Serra, do PSDB, expressou em sua declaração, nesta quinta-feira, o machismo que orienta não apenas sua campanha, mas sua atuação política no último período: “Se você é uma menina bonita, tem que conseguir 15 votos. Pegue a lista de pretendentes e mande um e-mail. Fale que quem votar em mim tem mais chance com você”.

Repudiamos todas as práticas que pretendem obter qualquer tipo de lucro a partir do uso do corpo das mulheres, seja no turismo sexual, na indústria do entretenimento ou no tráfico de mulheres para a exploração sexual que movimenta pelo menos 58 bilhões de dólares anuais. O conteúdo explícito da declaração de Serra, ao incentivar que as meninas se ofereçam em troca de votos para este candidato misógino, incentiva estas práticas.

A misoginia do governador faz coro com uma sociedade que trata as mulheres como objeto na publicidade, nos meios de comunicação e nas ruas. Repudiamos o conteúdo desta declaração, que considera as mulheres a partir de sua aparência, tendo como referência um padrão de beleza que faz com que milhares de jovens desenvolvam doenças como anorexia e bulimia. A imposição de um modelo ideal e inatingível de beleza expõe as mulheres às promessas da indústria dos cosméticos, remédios e cirurgias plásticas que destroem a autoestima das mulheres.

Em uma sociedade em que a cada dia 10 mulheres são assassinadas por homens, o candidato reforça uma visão conservadora e machista de que as mulheres e seus corpos estão disponíveis para o consumo por meio da venda direta ou indireta. Nesta sociedade em que, em apenas 7 meses, mais de 340 mil mulheres denunciaram ser vítimas de violência sexista, o candidato se recusou durante meses a assinar o Pacto de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, enquanto governador de São Paulo. Após a assinatura, fruto de intensa pressão do movimento de mulheres organizado em SP, o então governador não investiu na implementação deste Pacto. Enquanto governador, José Serra foi, portanto, conivente com a violência sofrida a cada 15 segundos por uma mulher brasileira. Enquanto candidato à presidência, José Serra é a expressão do que há de mais machista e reacionário com relação às mulheres. Não por acaso, o candidato conta com apoio de dirigentes da TFP, agrupamento que se situa entra os mais conservadores do Brasil.

A atuação política e as declarações do candidato com relação às mulheres é uma agressão a todas nós que, nos dias de hoje, seguimos a luta de milhares de mulheres que nos antecederam reivindicando o direito a sermos respeitadas como cidadãs, portadoras de razão e direitos.
Ao contrário do que o candidato José Serra pensa, nós mulheres temos capacidade de refletir e decidir sobre nossas vidas e sobre nosso voto. Convencemos homens e mulheres a partir de nossos argumentos, e não do oferecimento de nossos corpos.

Repudiamos o preconceito e a discriminação expressados pelo candidato José Serra.

Estamos convencidas de que as mulheres podem ocupar os postos de trabalho em condições de igualdade com os homens, inclusive participando da política. Podemos (e queremos) ser vereadoras, prefeitas, deputadas, senadoras, governadoras e presidentas, e não apenas utilizar de nossos corpos para obter votos para os homens, como propõe o candidato José Serra.

Decidimos votar na candidata Dilma Roussef, que é parte de um projeto histórico que incorpora a liberdade e igualdade das mulheres como princípios, e estamos conscientes de que os desafios para alcançar estes objetivos são muitos e não se encerram em uma eleição.

Estamos ao lado da candidata que foi fundamental na condução do governo Lula, que ampliou a uma escala nunca antes conhecida o reconhecimento das mulheres como cidadãs. Reconhecemos os avanços referentes ao direito à documentação da mulher trabalhadora rural, que emitiu mais de um milhão e duzentos mil documentos civis e trabalhistas para as mulheres rurais, garantindo-lhes a possibilidade de acessar as políticas públicas e a efetivação de seus direitos, como a titulação conjunta, permitindo que se tornassem coproprietárias da terra em que trabalham, e não mais apenas dependentes dos maridos, chefes de família. Reconhecemos as iniciativas que iniciaram um enfrentamento articulado e concreto à violência sexista, a partir da elaboração e aprovação da Lei Maria da Penha e da implementação do Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher.

Estamos ao lado da candidata que defende em sua prática política e em seu programa de governo a soberania de nosso país e a integração solidária com os países vizinhos na América Latina.

Estamos ao lado da candidata que propõe a criação de 6 mil creches públicas, condição fundamental para que as mulheres possam exercer seu direito a um emprego com salário e condições dignas.

Estamos ao lado da mulher que lutou e luta pela liberdade e pela democracia, e estamos convencidas de que a efetivação da democracia para todos os brasileiros e todas as brasileiras exige a garantia da autonomia e autodeterminação das mulheres.

Estamos em marcha até que todas as mulheres sejam livres!

Por Tica Moreno, Bruna Provazi (Marcha Mundial das Mulheres) e Fabíola Paulino (Diretora de Mulheres da UNE)