terça-feira, 17 de julho de 2012

Mulher e solteira no Irã


Mulheres solteiras começam a ser mais aceitas no Irã 

Por THOMAS ERDBRINK

Teerã

Shoukoufeh é estudante de literatura inglesa vinda de uma cidade do interior do Irã. Quando ela decidiu alugar um apartamento na capital, passou numa joalheria e comprou uma aliança de casamento por US$ 5.

Acostumada a driblar a etiqueta da sociedade iraniana, onde se espera que as mulheres vivam com seus pais ou com seu marido, a estudante de 24 anos fazia questão de mostrar a aliança falsa a corretores imobiliários que, de outro modo, relutariam em alugar um apartamento a uma mulher solteira.

"Para eles e para meus vizinhos, minha colega de apartamento e eu somos duas mulheres casadas que se afastaram temporariamente dos maridos em função dos estudos", explicou ela. "Na realidade, somos solteiras."

Não existem estatísticas oficiais sobre o número de mulheres que vivem sozinhas nas grandes cidades do Irã. Mas professores universitários, corretores imobiliários, famílias e muitas jovens dizem que um fenômeno que há dez anos era muito raro hoje está se tornando comum.

Na ânsia de impedir que a tendência se alastre, o governo lançou uma campanha para promover casamentos rápidos e a baixo custo - mas, segundo especialistas, a campanha teve efeito contrário ao desejado, na medida em que aviltou uma instituição profundamente enraizada na cultura milenar iraniana.

As jovens são obrigadas a desenvolver estratégias para cuidar delas mesmas numa sociedade em que muitas das normas sociais são baseadas numa desconfiança profunda da sexualidade feminina. Shoukoufeh, que não quis dar seu nome completo por medo de perder seu contrato de aluguel, disse que seus pais apoiaram sua decisão.

"Eles sabem que eu quero ser independente", disse ela em tom decidido. "Compreendem que os tempos mudaram."

Graças à presença da televisão via satélite, das mídias sociais e do baixo custo das viagens para fora do país, muitos iranianos mudaram as atitudes.

Nos últimos dez anos, o número de estudantes matriculados em universidades vem subindo muito e hoje as mulheres respondem por quase 60% do total. 

No mesmo período, o índice de divórcios subiu 135%, obrigando a sociedade a começar a aceitar mais a presença de mulheres solteiras.

"Quando minha mãe era jovem, casar-se e ter filhos era o único sucesso que a mulher podia ter", comentou Shoukoufeh, que pretende deixar o país para seguir adiante com seus estudos. "Hoje, pelo menos para mim, isso é o menos importante."

As autoridades promovem a maternidade como virtude sagrada. "Os jovens não casados estão nus. O casamento é como uma roupa divina", disse no mês passado o aiatolá Kazem Saddighi.

No passado, as mulheres divorciadas eram condenadas a vidas de solidão, mas o aumento muito grande nos divórcios, além dos salários mais altos que acompanham um diploma universitário, estão permitindo que muitas mulheres redefinam o sucesso.

"Para minha surpresa, meus pais também queriam que eu vivesse sozinha", disse Nazanin, 35. Como gerente de uma empresa de cosméticos, sua renda lhe permitiu alugar um apartamento, após deixar seu marido dependente de drogas. "Creio profundamente em Deus", disse ela. "Ele quis isto para mim. Minha vida como solteira é tão melhor."

Nazanin, que não quis que seu sobrenome fosse citado, contou que todo o mundo em seu trabalho é divorciado. "A sociedade não tem outra opção senão nos aceitar", ponderou. "Espero que o Estado faça o mesmo." 

Somaye Malekian colaborou com reportagem

Fonte: NYTimes, com edição do Blog.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

The Runaways - Garotas do Rock


Em homenagem ao dia do Rock, aí vai uma dica cinematográfica e feminista.
 
Lançamento: 2010
Direção: Floria Sigismondi Elenco: Kristen Stewart, Dakota Fanning, Michael Shannon
Gênero: Biografia
Nacionalidade: EUA


Sinopse
Los Angeles, 1975. Joan Jett tinha o sonho de montar uma banda de rock, formada apenas por mulheres. Ela encontra apoio em Cherrie Currie, que integra a banda, e no empresário Kim Fowley. Com ele as integrantes da banda The Runaways levam uma vida desajustada e, apesar de apresentarem um som cru, alcançam o sucesso graças ao talento de Joan e o visual sensual de Cherie

Fonte: Adorocinema.com

Saiba+

Começaram a fazer alguns shows na Califórnia, e em 1976 a banda cresceu. Entraram a guitarrista solo de 16 anos Lita Ford e a cantora Cherie Currie. Além disso a baixista Micki Steele deixou a banda, sendo substituída por Jackie Fox. A banda atingiu grande sucesso. No mesmo ano, gravaram seu disco de estréia, intitulado "The Runaways". Do disco saiu o sucesso "Cherry Bomb", e a banda saiu em turnê nos EUA, cujos shows costumavam ter ingressos esgotados.

Em 1977 lançaram seu segundo álbum, chamado "Queens of Noise" e então começou a turnê mundial. No desembarque em um aeroporto do Japão, tinha tanta gente, que Joan Jett descreveu depois como sendo algo parecido com a Beatlemania. Ainda no Japão, Jackie Fox deixou a banda. Joan Jett assumiu os baixos temporariamente, e ao voltarem foram ocupados pela garota de 17 anos Vickie Blue. Então, a cantora Cherie Currie deixou a banda, e Joan Jett, que fazia a segunda voz, assumiu o vocal. A banda gravou seu terceiro álbum "Waiting For The Night" e começou uma turnê mundial com a banda punk Ramones.

Em 1978, desacordos fizeram as Runaways e Kim Fowley romperem. A baixista Vickie Blue deixou o grupo, sendo substituída por Laurie McAllister. Gravaram então seu último álbum "And Now... The Runaways".

A banda acabou oficialmente em 1979. Havia muitas críticas da imprensa americana, que não estava preparada para ver garotas adolescentes com atitude, que escreviam e tocavam as próprias músicas e seus próprios instrumentos. Existiam também os problemas internos de constante troca de integrantes, e sub-gênero do rock a ser seguido. Joan Jett, guitarrista base, preferia o punk, enquanto Lita Ford tinha preferência pelo Heavy Metal. A banda acabou, mas deixou a mensagem principal de que mulheres podem fazer Rock. Após o fim da banda Após o término do grupo cada integrante seguiu em carreira solo, formou uma nova banda, ou mudou de profissão.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Runaway, com edição do blog.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Aprovada a paridade na CUT

Por decisão da maioria dos delegados e delegadas no 11º CONCUT, que rola em SP (de 8 a 13 de julho), acaba de ser aprovada a paridade no Estatuto da CUT, que é a maior central sindical da América Latina e umas das maiores do mundo. Quem apresentou a proposta, em nome do conjunto que apoia a paridade, foi Rosane (foto), atual secretária da Mulher Trabalhadora da CUT.

A batucada da Marcha Mundial das Mulheres estava presente gritando "Central Única DAS TRABALHADORAS". O plenário cantava "É pra vencer / é pra lutar / a paridade tá na hora de aprovar" e também "Se quer falar de igualdade / Rompe machismo e aprova paridade".

Veja trechos das defesas das mulheres:

Elida, da EPS: "quando é achatado o salário de metade da classe trabalhadora, que são as mulheres, há a redução do custo de trabalho. Portanto, estamos fazendo luta de classes, somos anticapitalistas"

Jandira, da AE: "não é possível ter uma visão de classe trabalhadora sem perceber que existe exploração maior das mulheres. A paridade potencializa o engajamento das mulheres na luta de classes"

Marlei, da CSD: "a luta das mulheres remonta à formação da Comissão Pró-CUT. A luta anticapitalista da CUT se expressa no combate à exploração e opressão das mulheres. Não há socialismo sem feminismo. A paridade dará condições objetivas de participação das mulheres na CUT, para torna-la mais feminista"

Carmem, da ARTSIND: "a paridade é o reconhecimento que existe em nossa vida, no trabalho, em cada esquina, em casa, em todos os lugares a violência e a opressão das mulheres. Igualdade é um instrumento democrático e classista"  


Da MMM-Pará estão presentes no 11º CONCUT as militantes Rosalina (presidenta do Sindbancários), Ray Barreto (Sec. da Mulher da CUT PA) e Cristina Leão (Op. Cutista Sintepp).

quarta-feira, 11 de julho de 2012

No Congo, o fardo de ser mulher

 
Por DZHAMBAZOVA e PAULIN BASHENGEZI


BUKAVU, República Democrática do Congo — Às 6h da manhã Cesarine Maninga, 43, amarra um fardo de 50 kg de carvão às suas costas e parte a pé para Bukavu, capital da província de Kivu do Sul, no leste do Congo.

Maninga é uma das centenas de mulheres que fazem esse trabalho todos os dias, carregando cargas de até 100 kg por distâncias curtas. Nessa manhã, ela espera vender a “makala” —o carvão seco usado na cozinha e para aquecimento. Ela vai caminhar quase 10 km com sua carga.

“Não tenho escolha”, ela fala em tom de resignação amarga. “Preciso alimentar minha família” —11 filhos e um marido desempregado.

Várias pesquisas internacionais já classificaram a República Democrática do Congo como o pior lugar do mundo para mulheres. De acordo com um estudo publicado no ano passado pelo “American Journal of Public Health”, 48 congolesas são violentadas por hora. Vários grupos rebeldes e milícias vêm há anos usando o estupro como arma para destruir comunidades.

Durante anos de guerra em toda a parte oriental do Congo, as mulheres passaram a carregar cargas pesadas nas costas. Cavalos, burros e caminhões custam caro demais, dizem os congoleses. As estradas, quando existem, são quase intransitáveis, exceto a pé.

Na cidade, as carregadoras transportam pesos entre o porto à margem do lago e o mercado, além de fazerem entregas para consumidores em situação financeira melhor. Carregam mandioca, bananas, cana de açúcar, farinha, carvão, areia e lenha.

Cada mulher carrega centenas de quilos por semana. Não há pausas para comer ou para descanso —apenas mais quilômetros a percorrer para receber US$ 1 ou US$ 2 por dia, valor que mal é o suficiente para comprar um pouco de farinha ou arroz.

Nesta região, onde a guerra nos anos 1990 dizimou o que existia em matéria de indústria ou agricultura, os alimentos são trazidos de outros lugares e, por essa razão, são relativamente caros.

Foram os anos de guerra, quando os homens foram mortos ou então voltaram para casa e não encontraram trabalho, que deram ao Congo oriental suas multidões de mulheres carregadoras.


Embora o índice de alfabetização aqui chegue a 67% da população adulta, segundo a Unesco, muitas meninas não frequentam a escola, porque seus pais têm dificuldades em pagar as mensalidades. As mulheres estão mal representadas nas instituições políticas.

Essa situação vem mudando, mas, para ativistas dos direitos das mulheres, as mudanças são lentas demais.

“Infelizmente, isso virou moda na RDC”, comentou Solange Lwashiga, secretária de uma ONG local, o Caucus de Mulheres Congolesas de Kivu do Sul pela Paz. “As mulheres tomaram o lugar de máquinas. Tomaram o lugar de veículos.”


Financiado por doadores e contribuições minúsculas de suas sócias, o grupo oferece a congolesas microcrédito no valor de US$ 50 ou US$ 100 para que possam deixar o trabalho de carregadoras e tentar encontrar outras maneiras de ganhar a vida. “Há mulheres de espírito empreendedor na RDC”, disse Lwashiga. “Se você der US$ 10 a uma congolesa, dentro de um mês haverá US$ 30.”

Stella Yanda, diretora da ONG Initiatives Alpha, disse que isso também pode ajudar a acabar com o que ela considera ser uma discriminação dupla.

“Os homens recebem mais que as mulheres para carregar os mesmos volumes de mercadorias”, disse ela —eles recebem mil francos congoleses, ou cerca de US$ 1, enquanto as mulheres mal conseguem ganhar 500 francos congoleses. Yanda e Lwashiga também defendem a criação de uma lei que limite em 50 kg o peso permitido das cargas.


O fato de carregar fardos pesados inevitavelmente afeta a saúde das mulheres, desde dor muscular e câimbras até dores fortes nas costas e pescoço e danos ao cérebro causados pelas cordas amarradas à testa para dividir o peso.

Cesarine Maninga volta para casa exausta. Ela se queixa de dores constantes na cabeça e nas costas; certa vez, quebrou o braço carregando um fardo.

“Às vezes carrego um fardo sem ter comido nada. Quando tiro o fardo das costas, fico tonta. Mas estou acostumada. Não posso parar.” Lwashiga concorda. “Não vejo esse trabalho deixando de existir, a não ser que tenhamos mais mulheres na política”, disse.

Fonte: The New York Times (09/07), com resumo do Blog.

terça-feira, 10 de julho de 2012

As feministas é que são chatas

Por Aline Valek, no http://www.alinevalek.com.br
http://www.alinevalek.com.br/blog/wp-content/uploads/2012/07/feminista.jpg 

Alguns acham que fãs de futebol são chatos. Outros insistem que chatos são os evangélicos. Outros discordam, acham que chatos são os gays. É particularmente difícil determinar a chatice que define um grupo de pessoas, mas parece haver um consenso sobre as feministas: elas é que são chatas.

É claro que existe um universo de chatice explorado diariamente, mas a chatice das feministas é de uma proporção tão gigantesca que a chatice de pessoas desagradáveis como as que assoviam para você na rua acabam passando em branco.
Tem gente que diz que mulher não pode sair de roupa curta. Tem que se valorizar. Mas sair sem maquiagem não pode, tem que ser feminina. Outros dizem que tem que alisar o cabelo, porque cabelo crespo ou indomável não pode ser bonito. São pessoas que vão olhar para alguém que não se encaixa no padrão e dizer “ih, você precisa se cuidar”. Mas as feministas é que são chatas.

Tem gente que conseguiu determinar o que é uma “mulher de verdade”, em uma listinha cheia de detalhes complicados, como: não pode ser magra demais, mas também não pode ser gostosona, porque isso é vulgar; não pode gostar de beber, nem querer se divertir; tem que ser pra casar, para cuidar do marido quando ele precisar. Se não se encaixar na listinha com outros quinhentos e oitenta e três itens, só pode ser puta. Essas pessoas também dizem que mulher não pode falar palavrão e nem gostar de sexo como os homens. Mas as feministas é que são chatas.

Tem gente que diz que, se uma mulher não quer transar com um cara que foi legal com ela, ela é uma vaca por deixá-lo na friendzone. Mas tem gente que também diz que se a mulher transa com quem quer, quando quer, ela é uma vadia. Há quem diga que o sexo desvaloriza a mulher, então ela precisa se “guardar”. Essas pessoas devem achar que buceta se desgasta com o uso. Mas as feministas é que são chatas.

Tem gente que diz que homem não serve pra cozinhar. Que é um completo retardado que não é capaz de fazer sozinho a mais simples das tarefas domésticas sem fazer algo errado ou sem chamar a mulher para ajudar, afinal, ela é que foi feita pra isso. Essas pessoas também dizem que homem é uma criatura rasa e descontrolada que vai querer enfiar o peru em qualquer mulher que vê pela frente. Tem gente que diz que homem com sensibilidade não pode, porque é “gay”. E ainda tem gente que diz que é o homem quem tem que pagar a conta. Mas as feministas é que são chatas.
Tem gente que adora quando as mulheres tiram fotos de lingerie e publicam na internet, desde que não sejam gordas, velhas, feias, ou que usem lingerie bege. Tirar a roupa para protestar também não pode. Porque há quem diga que as mulheres até podem lutar por seus direitos, mas não podem “lutar demais”. Essas pessoas é que definem quem pode ficar nua, aonde, por qual motivo e para quem elas devem se mostrar. Mas as feministas é que são chatas.

Querem cagar regra sobre o que a mulher pode ou não fazer com seu próprio corpo. Mas as feministas é que são chatas.
Feministas são chatas porque falam de assuntos que ninguém quer ouvir (porque, quem sabe, se não falassem tanto de estupro, ele magicamente deixaria de existir). Feministas (e estamos falando de homens e mulheres) são as malas sem alça que desconstroem as mensagens da mídia e questionam tudo. Tudo porque acreditam na ideia radical que mulheres são seres humanos.

É, as feministas são chatas. E eu, que escrevi isso, devo ser também.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Ciência preconceituosa



Psicóloga inglesa afirma que interpretações forçadas de pesquisas nos fazem pensar que diferenças entre homens e mulheres são explicadas pelo cérebro
Por Tiago Cordeiro (Revista Galileu)



Existem questões fisiológicas e cerebrais que determinam os comportamentos diferentes entre homens e mulheres, como o fato de que eles dirigem melhor e entendem matemática com facilidade e elas são ótimas na comunicação e em relacionamentos interpessoais. Certo? Errado, muito errado. Para a psicóloga inglesa Cordelia Fine, essa noção, que ocupa espaço nos jornais e páginas de livros muito populares sobre comportamento humano, vem de uma interpretação rasa de pesquisas, muitas vezes, malfeitas. Em seu terceiro e mais recente livro, Delusions of Gender (Ilusões de Gênero, sem edição no Brasil), a pesquisadora, que tem Ph.D. pela Universidade College London, defende que a ciência é a grande culpada pela disseminação dessas noções sexistas e desmitifica estudos importantes feitos nessa área. O sexo de quem conduz cada estudo, segundo ela, pode determinar ou enviesar o resultado da pesquisa. Cordelia, que já participou desse tipo de experimento, fala sobre o papel sexista da ciência nesta entrevista exclusiva.

*Como a ciência ajudou a reforçar estereótipos a respeito de homens e mulheres?
Cordelia Fine: No século 19, os médicos da Inglaterra vitoriana pensavam que o cérebro menor e mais leve das mulheres explicava sua suposta inferioridade intelectual. Atualmente, uma ideia muito difundida é que o cérebro masculino é mais especializado que o feminino, e por isso os homens tenderiam a usar um lado para processar a linguagem e o outro para lidar com as informações espaciais. Em contraste, as mulheres usariam os dois lados para tudo. Essa noção não tem apoio nas evidências, mas escritores populares se apegam a isso para justificar preconceitos antigos, como o de que homens são melhores em matemática e as mulheres têm mais habilidade para relacionamentos.

*Você tem outros exemplos claros dessa manipulação?
Fine: Uma pesquisa que eu cito em meu livro, feita por psicólogos da Universidade de Cambridge, aponta que, quando um menino vê um celular, ele se preocupa com o aparelho, enquanto a menina repara na foto da tela. Acontece que sempre há a chance de o aparelho ser levemente movimentado diante dos meninos para reforçar o resultado esperado. Em outro caso, um estudo da Universidade de Londres com crianças desclassificou um brinquedo antes caracterizado como “masculino” porque as garotas testadas o adoraram. Outro estudo, desta vez nos Estados Unidos, apontou que as garotas passaram o dobro do tempo entretidas com brinquedos supostamente de meninos do que com femininos. Mas o dado foi omitido do resultado final. Posso garantir: nesse tipo de pesquisa, dados que não confirmem a tese original do pesquisador são ignorados.

*Centenas de estudos apontam essas diferenças. Estão errados?
Fine: De fato, esse tipo de pesquisa pipoca o tempo todo, mas todos têm sérios problemas de metodologia. Em primeiro lugar, costumam ser realizados com amostragens quase insignificantes — o resumo que a imprensa usa para escrever reportagens não costuma deixar isso claro, mas muitas são feitas com algo entre quatro e oito pessoas. É muito pouco.

*Mas as diferenças entre os cérebros existem, não?
Fine: Sem dúvida. Na média, homens têm cérebros maiores e contam com um pequeno grupo de células do hipotálamo ligeiramente maiores. Identificar essas características é fácil e atraente porque pode ser traduzido em imagens. Mas não estamos falando de um órgão estático. O cérebro se desenvolve e se adapta de acordo com o ambiente em que a pessoa está. Os circuitos de neurônios são, em grande parte, resultado do meio físico, social e cultural no qual vivemos. O fato é que trata-se de um órgão tremendamente complexo e ainda estamos muito longe de entendê-lo. Não sabemos qual o efeito real de uma amídala um pouco maior ou um córtex frontal direito ser mais ativo em homens, por exemplo.

*Se homens e mulheres vivessem em igualdade de tratamento, as diferenças de comportamento entre eles desapareceriam?
Fine: Não conhecemos uma única sociedade que tenha conseguido acabar totalmente com o sexismo, mas acredito que sim. Quer dizer, haveria tantos homens quanto mulheres engenheiros, escritores, matemáticos, bons motoristas, capazes de exercer a empatia, por exemplo. Por outro lado, quando o ambiente evidencia as diferenças de gênero, elas se tornam ainda mais fortes. É um efeito em cascata que garante que qualquer executiva americana de sucesso da atualidade seria uma dona de casa na década de 40.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Declaração final Cúpula dos Povos na Rio+20


Declaração final Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e AmbientalEm defesa dos bens comuns, contra a mercantilização da vida
Movimentos sociais e populares, sindicatos, povos, organizações da sociedade civil e ambientalistas de todo o mundo presentes na Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental, vivenciaram nos acampamentos, nas mobilizações massivas, nos debates, a construção das convergências e alternativas, conscientes de que somos sujeitos de uma outra relação entre humanos e humanas e entre a humanidade e a natureza, assumindo o desafio urgente de frear a nova fase de recomposição do capitalismo e de construir, através de nossas lutas, novos paradigmas de sociedade.
A Cúpula dos Povos é o momento simbólico de um novo ciclo na trajetória de lutas globais que produz novas convergências entre movimentos de mulheres, indígenas, negros, juventudes, agricultores/as familiares e camponeses, trabalhadore/as, povos e comunidades tradicionais, quilombolas, lutadores pelo direito a cidade, e religiões de todo o mundo. As assembléias, mobilizações e a grande Marcha dos Povos foram os momentos de expressão máxima destas convergências.
As instituições financeiras multilaterais, as coalizações a serviço do sistema financeiro, como o G8/G20, a captura corporativa da ONU e a maioria dos governos demonstraram irresponsabilidade com o futuro da humanidade e do planeta e promoveram os interesses das corporações na conferencia oficial. Em constraste a isso, a vitalidade e a força das mobilizações e dos debates na Cúpula dos Povos fortaleceram a nossa convicção de que só o povo organizado e mobilizado pode libertar o mundo do controle das corporações e do capital financeiro.
Há vinte anos o Fórum Global, também realizado no Aterro do Flamengo, denunciou os riscos que a humanidade e a natureza corriam com a privatização e o neoliberalismo. Hoje afirmamos que, além de confirmar nossa análise, ocorreram retrocessos significativos em relação aos direitos humanos já reconhecidos. A Rio+20 repete o falido roteiro de falsas soluções defendidas pelos mesmos atores que provocaram a crise global. À medida que essa crise se aprofunda, mais as corporações avançam contra os direitos dos povos, a democracia e a natureza, sequestrando os bens comuns da humanidade para salvar o sistema economico-financeiro.
As múltiplas vozes e forças que convergem em torno da Cúpula dos Povos denunciam a verdadeira causa estrutural da crise global: o sistema capitalista patriarcal, racista e homofobico.
As corporações transnacionais continuam cometendo seus crimes com a sistematica violação dos direitos dos povos e da natureza com total impunidade. Da mesma forma, avançam seus interesses através da militarização, da criminalização dos modos de vida dos povos e dos movimentos sociais promovendo a desterritorialização no campo e na cidade.
Da mesma forma denunciamos a divida ambiental histórica que afeta majoritariamente os povos oprimidos do mundo, e que deve ser assumida pelos países altamente industrializados, que ao fim e ao cabo, foram os que provocaram as múltiplas crises que vivemos hoje.
O capitalismo também leva à perda do controle social, democrático e comunitario sobre los recursos naturais e serviços estratégicos, que continuam sendo privatizados, convertendo direitos em mercadorias e limitando o acesso dos povos aos bens e serviços necessarios à sobrevivencia.
A dita “economia verde” é uma das expressões da atual fase financeira do capitalismo que também se utiliza de velhos e novos mecanismos, tais como o aprofundamento do endividamento publico-privado, o super-estímulo ao consumo, a apropriação e concentração das novas tecnologias, os mercados de carbono e biodiversidade, a grilagem e estrangeirização de terras e as parcerias público-privadas, entre outros.
As alternativas estão em nossos povos, nossa historia, nossos costumes, conhecimentos, práticas e sistemas produtivos, que devemos manter, revalorizar e ganhar escala como projeto contra-hegemonico e transformador.
A defesa dos espaços públicos nas cidades, com gestão democrática e participação popular, a economia cooperativa e solidaria, a soberania alimentar, um novo paradigma de produção, distribuição e consumo, a mudança da matriz energética,  são exemplos de alternativas reais frente ao atual sistema agro-urbano-industrial.
A defesa dos bens comuns passa pela garantia de uma série de direitos humanos e da natureza, pela solidariedade e respeito às cosmovisões e crenças dos diferentes povos, como, por exemplo, a defesa do “Bem Viver” como forma de existir em harmonia com a natureza, o que pressupõe uma transição justa a ser construída com os trabalhadores/as e povos.
Exigimos uma transição justa que supõe a ampliação do conceito de trabalho, o reconhecimento do trabalho das mulheres e um equilíbrio entre a produção e reprodução, para que esta não seja uma atribuição exclusiva das mulheres. Passa ainda pela liberdade de organização e o direito a contratação coletiva, assim como pelo estabelecimento de uma ampla rede de seguridade e proteção social, entendida como um direito humano, bem como de políticas públicas que garantam formas de trabalho decentes.
Afirmamos o feminismo como instrumento da construção da igualdade, a autonomia das mulheres sobre seus corpos e sexualidade e o direito a uma vida livre de violência. Da mesma forma reafirmamos a urgência da distribuição de riqueza e da renda, do combate ao racismo e ao etnocídio, da garantia do direito a terra e território, do direito à cidade, ao meio ambiente e à água, à educação, a cultura, a liberdade de expressão e democratização dos meios de comunicação.
O fortalecimento de diversas economias locais e dos direitos territoriais garantem a construção comunitária de economias mais vibrantes. Estas economias locais proporcionam meios de vida sustentáveis locais, a solidariedade comunitária, componentes vitais da resiliência dos ecossistemas. A diversidade da natureza e sua diversidade cultural associada é fundamento para um novo paradigma de sociedade.
Os povos querem determinar para que e para quem se destinam os bens comuns e energéticos, além de assumir o controle popular e democrático de sua produção. Um novo modelo enérgico está baseado em energias renováveis descentralizadas e que garanta energia para a população e não para as corporações.
A transformação social exige convergências de ações, articulações e agendas a partir das resistências e alternativas contra hegemônicas ao sistema capitalista que estão em curso em todos os cantos do planeta. Os processos sociais acumulados pelas organizações e movimentos sociais que convergiram na Cúpula dos Povos apontaram para os seguintes eixos de luta:
  • Contra a militarização dos Estados e territórios;
  • Contra a criminalização das organizações e movimentos sociais;
  • Contra a violência contra as mulheres;
  • Contra a violência as lesbicas, gays, bissexuais, transexuais e transgeneros;
  • Contra as grandes corporações;
  • Contra a imposição do pagamento de dívidas econômicas injustas e por auditorias populares das mesmas;
  • Pela garantia do direito dos povos à terra e território urbano e rural;
  • Pela consulta e consentimento livre, prévio e informado, baseado nos princípios da boa fé e do efeito vinculante, conforme a Convenção 169 da OIT;
  • Pela soberania alimentar e alimentos sadios, contra agrotóxicos e transgênicos;
  • Pela garantia e conquista de direitos;
  • Pela solidariedade aos povos e países, principalmente os ameaçados por golpes militares ou institucionais, como está ocorrendo agora no Paraguai;
  • Pela soberania dos povos no controle dos bens comuns, contra as tentativas de mercantilização;
  • Pela mudança da matriz e modelo energético vigente;
  • Pela democratização dos meios de comunicação;
  • Pelo reconhecimento da dívida histórica social e ecológica;
  • Pela construção do DIA MUNDIAL DE GREVE GERAL.
Voltemos aos nossos territórios, regiões e países animados para construirmos as convergências necessárias para seguirmos em luta, resistindo e avançando contra os sistema capitalista e suas velhas e renovadas formas de reprodução.
Em pé continuamos em luta!
Rio de Janeiro, 15 a 22 de junho de 2012.Cúpula dos Povos por Justiça Social e ambiental em defesa dos bens comuns, contra a mercantilização da vida.

domingo, 1 de julho de 2012

Pela primeira vez uma revista científica brasileira, a Ciência & Saúde Coletiva, dedicará um número inteiro para tratar do assunto. A edição temática, financiada em parte pelo Ministério da Saúde, será publicada em julho. Os artigos traduzem os resultados qualitativos da Pesquisa Nacional do Aborto, produzida por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Brasília, que trouxe a público, em 2010, a informação de que uma em cada cinco brasileiras de até 40 anos já fez ao menos um aborto. Revelados aqui em primeira mão, os textos revelam a realidade sem hipocrisia: o que se passa nas clínicas clandestinas até o atendimento na rede pública de eventuais complicações.

Fonte: Carta Capital