terça-feira, 17 de julho de 2012
Mulher e solteira no Irã
Mulheres solteiras começam a ser mais aceitas no Irã
Por THOMAS ERDBRINK
Teerã
Shoukoufeh é estudante de literatura inglesa vinda de uma cidade do interior do Irã. Quando ela decidiu alugar um apartamento na capital, passou numa joalheria e comprou uma aliança de casamento por US$ 5.
Acostumada a driblar a etiqueta da sociedade iraniana, onde se espera que as mulheres vivam com seus pais ou com seu marido, a estudante de 24 anos fazia questão de mostrar a aliança falsa a corretores imobiliários que, de outro modo, relutariam em alugar um apartamento a uma mulher solteira.
"Para eles e para meus vizinhos, minha colega de apartamento e eu somos duas mulheres casadas que se afastaram temporariamente dos maridos em função dos estudos", explicou ela. "Na realidade, somos solteiras."
Não existem estatísticas oficiais sobre o número de mulheres que vivem sozinhas nas grandes cidades do Irã. Mas professores universitários, corretores imobiliários, famílias e muitas jovens dizem que um fenômeno que há dez anos era muito raro hoje está se tornando comum.
Na ânsia de impedir que a tendência se alastre, o governo lançou uma campanha para promover casamentos rápidos e a baixo custo - mas, segundo especialistas, a campanha teve efeito contrário ao desejado, na medida em que aviltou uma instituição profundamente enraizada na cultura milenar iraniana.
As jovens são obrigadas a desenvolver estratégias para cuidar delas mesmas numa sociedade em que muitas das normas sociais são baseadas numa desconfiança profunda da sexualidade feminina. Shoukoufeh, que não quis dar seu nome completo por medo de perder seu contrato de aluguel, disse que seus pais apoiaram sua decisão.
"Eles sabem que eu quero ser independente", disse ela em tom decidido. "Compreendem que os tempos mudaram."
Graças à presença da televisão via satélite, das mídias sociais e do baixo custo das viagens para fora do país, muitos iranianos mudaram as atitudes.
Nos últimos dez anos, o número de estudantes matriculados em universidades vem subindo muito e hoje as mulheres respondem por quase 60% do total.
No mesmo período, o índice de divórcios subiu 135%, obrigando a sociedade a começar a aceitar mais a presença de mulheres solteiras.
"Quando minha mãe era jovem, casar-se e ter filhos era o único sucesso que a mulher podia ter", comentou Shoukoufeh, que pretende deixar o país para seguir adiante com seus estudos. "Hoje, pelo menos para mim, isso é o menos importante."
As autoridades promovem a maternidade como virtude sagrada. "Os jovens não casados estão nus. O casamento é como uma roupa divina", disse no mês passado o aiatolá Kazem Saddighi.
No passado, as mulheres divorciadas eram condenadas a vidas de solidão, mas o aumento muito grande nos divórcios, além dos salários mais altos que acompanham um diploma universitário, estão permitindo que muitas mulheres redefinam o sucesso.
"Para minha surpresa, meus pais também queriam que eu vivesse sozinha", disse Nazanin, 35. Como gerente de uma empresa de cosméticos, sua renda lhe permitiu alugar um apartamento, após deixar seu marido dependente de drogas. "Creio profundamente em Deus", disse ela. "Ele quis isto para mim. Minha vida como solteira é tão melhor."
Nazanin, que não quis que seu sobrenome fosse citado, contou que todo o mundo em seu trabalho é divorciado. "A sociedade não tem outra opção senão nos aceitar", ponderou. "Espero que o Estado faça o mesmo."
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