quinta-feira, 31 de março de 2011

Maria, Maria

Peço licença nesse post pois sei que é um tema controvertido, afinal nem todo mundo gosta de Big Brother Brasil. Eu (infelizmente) sou viciada em BBB. Início de ano é selado, todas as terças e domingos são noites emocionantes. Pra quem acompanhou praticamente todas as edições do programa - e ainda por cima é feminista - essa edição superou todas as outras! E aqui não falo de audiência do programa, pois nesse praticamente o BBB se acabou, tendo pouquíssimos picos de audiência e votações incomparávelmente menores do que em outras edições.

Mas algo mudou! Pela primeira vez uma Mulher ganhou o programa por ser mulher! Sim, eu sei, outras mulheres já ganharam o
BBB, Cida e Mara eram mulheres pobres a qual o povo quis fazer justiça social, elas não ganharam pelo que foram(ou se mostraram) no programa , ganharam por sua condição social.

Maria, a vencedora do bbb 11 não! Maria foi tudo o que o machismo condena na mulher. Maria venceu e deu um tapa na cara do machismo!


Nina Lemos: Maria e a revolução da "periguete"

Ela entrou no "BBB" com fama de "garota de programa". Já fez ensaios sensuais para revistas e posou com lingerie. Maria é uma mulher sensual. Maria gosta de sexo. E ela nunca escondeu isso. No programa, se apaixonou por Mau Mau. O cara saiu e, quando voltou, ela estava paquerando outro. Pronto. Foi jogada na fogueira moral: "essa mulher não presta", gritavam os homens em uníssono.

Mulher que assume a sua sexualidade não vale nada. A que banca seu desejo também não. "Joga pedra na Maria, ela é feita para apanhar, ela é boa de cuspir". Aqui, do lado de fora, algumas garotas dizem que ela é legal, mas é "periguete", evidenciando o preconceito que as próprias moças têm contra essa categoria que, na real, ninguém sabe direito o que significa.

Periguete é uma mulher perigosa, "vulgar", que pode ficar com o seu marido. Cuidado! O termo é pejorativo. Mas Maria não parece ser pessoa de ter problema com isso. Pelo o que ela tem mostrado no programa, é bem resolvida. E, como não cansa de repetir, "faz tudo o que quer".

Pois bem. A mesma achincalhada, aquela que não presta, que não tem boa fama e é perigosa, é a favorita para ganhar R$ 1,5 milhão. Se for campeã, será a primeira mulher "periguete" a vencer o programa. As outras duas que já ganharam eram duas mulheres humildes. Fofas. Mas que venceram por serem pobres. O público votou nelas por pena.

De Maria ninguém tem pena. Muito menos agora. Além de finalista, ela tem um namorado, Wesley, que parece não estar nem aí para a sua "fama". Pelo contrário. O sujeito, com os olhos brilhando, promete para ela casa, comida e roupa lavada. E, para o sonho de Cinderela ser ainda melhor, ele é MÉDICO. Aquela profissão com que as mães sempre sonham década após década para um genro.

Tem quem ache que o romance deles é armado. Não importa. Maria talvez nunca saiba disso, mas seu sucesso é um chute no machismo, no falso moralismo e em todos aqueles que usam a expressão "mulher que não presta". A moça, sem saber, fez um pequena revolução. E deixou todos aqueles que a achavam burra e "fácil" perplexos. Não é pouca coisa.

Fonte:
Folha de São Paulo

quarta-feira, 30 de março de 2011

Informações Para a Participação de Não estudantes no Pré EME

Durante a mobilização para o Pré-Encontro de Mulheres Estudantes da UNE percebemos que algumas mulheres que não são estudantes tem o interesse de participar do encontro também.

Assim, este post é para explicar como funciona a inscrição para estas. Na ficha de inscrição é obrigatório o preenchimento do espaço onde está escrito curso e matricula, então, mulheres que não são estudantes é simples é preciso somente colocar XXXXXX nesses campos.

Não tiramos a obrigatoriedade do preenchimento do curso e matricula na ficha de inscrição pois precisamos saber esses dados das meninas que são estudantes, para o podermos entregar os certificados do evento!



Inscreva-se por meio deste link : http://mulheresemmarcha.blogspot.com/

sexta-feira, 25 de março de 2011

STF decide que lei Maria da Penha é constitucional


O Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu hoje que a Lei Maria da Penha está de acordo com a Constituição ao impedir benefícios para agressores, como a suspensão do processo. Durante o julgamento, os ministros afirmaram que os crimes praticados no ambiente doméstico contra a mulher são gravíssimos, têm repercussão em toda a família e, por esse motivo, precisam ser combatidos.

Os integrantes do STF observaram que as agressões não se resumem à parte física, mas também atingem o lado psicológico. Recém empossado, o ministro Luiz Fux disse que "mulheres que sofrem violência doméstica não são iguais às que não sofrem violência doméstica". A ministra Cármen Lúcia disse que até ela sofre preconceito. Segundo ela, esse preconceito se manifesta quando um carro dirigido por um homem emparelha com o carro oficial em que ela se encontra e o motorista fica espantado ao descobrir que a passageira do carro oficial é uma mulher.

O STF tomou a decisão sobre a Lei Maria da Penha ao julgar e rejeitar um pedido de habeas corpus em nome de Cedenir Balbe Bertolini. Acusado de ter dado tapas e empurrado a companheira, ele foi condenado à pena restritiva de liberdade de 15 dias, convertida em pena alternativa de prestação de serviços à comunidade, e recorreu contra a condenação. Além de questionar o dispositivo da lei que impede a suspensão do processo, a defesa alegou que o caso deveria ter sido julgado por um juizado especial criminal.

Em nome do Ministério Público Federal, a vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat, argumentou que os juizados criminais especiais têm-se mostrado incapazes de enfrentar a violência doméstica porque, segundo ela, estariam abordando o problema de forma superficial.

Fonte: O Estadão

Reunião Domingo

Meninas teremos reunião do coletivo de Mulheres Estudantes este domingo no sindicato dos Bancários!!!

Pauta? Pré-Encontro de Mulheres Estudantes da UNE
Onde? Sindicato dos Bancários (entre doca e quintino)

Dia? Domingo 27 de março

Hora? 9 horas café da manhã (traga sua contribuição pro nosso café da manhã em coletivo, café, suco, bolo etc, qualquer contribuição será bem vinda).

Não falte! Ajude a construir o coletivo com a gente!

quinta-feira, 24 de março de 2011

Programação do Pre-EME

Gente, o Pre-Eme tá pertinho e solicitamos que as meninas que queiram participar se inscrevam. Vai ser dia 02 de Abril no Auditório do ICJ, na UFPA, profissional. 

PROGRAMAÇÃO

09:00 – Mesa de Abertura
 
09:30 – Mulher e Universidade

11:00 –  Assistência Estudantil para as mulheres.
 
14hrs - Direitos Sexuais e Reprodutivos: Rompendo as barreiras da hipocrisia.
 
16hrs – Feminismo e auto-organização, rumo ao IV Encontro nacional de Mulheres Estudantes.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Vamos?




Esse é o convite para o show da Rosa Correa. Será temático, "Canto pra elas" pois ainda estamos em março. Recomendadíssimo!

P.S.: O flyer foi a Carolzinha quem fez. Dá-lhe Caroooool! hehe

sexta-feira, 18 de março de 2011

É muita guerra pra quem diz promover a paz


*Coordenação dos Movimentos Sociais

Os Movimentos Sociais do Brasil, por ocasião da visita do presidente Obama ao Brasil, manifestam as seguintes preocupações:
Considerando que: A eleição de Barack Obama, em 2008, despertou muitas ilusões. Baseado em seu carisma pessoal, na eleição do primeiro negro presidente dos EUA, na rejeição aos republicanos que durante os dois mandatos de George W. Bush levaram os Estados Unidos à bancarrota e o mundo ao militarismo e às guerras de agressão.
Consideramos que: Obama foi eleito fazendo promessas de paz e respeito ao direito internacional, criando a ilusão de que a humanidade viveria em paz e harmonia.
A evolução dos acontecimentos, porém, encarregou-se de desfazer essas ilusões. Mudou a retórica, aperfeiçoou-se a propaganda, mudaram alguns atores, mas sob a direção de Barack Obama a política externa do imperialismo norte-americano continua em essência a mesma.
O atual mandatário dos Estados Unidos mantém a orientação belicista de ocupar países e agredir povos em nome da “luta ao terrorismo”.
Sob a presidência de Barack Obama, os Estados Unidos mantiveram a presença das tropas de ocupação no Iraque e no Afeganistão. Sua frota de aviões teleguiados “Drone” bombardeia diariamente a fronteira deste país com o Paquistão, acarretando a morte de civis.
O imperialismo estadunidense, sob a presidência de Barack Obama reafirmou o apoio à política genocida do Estado sionista israelense contra o povo palestino. Significativamente, a única vez em que o governo Obama utilizou até agora seu direito de veto no Conselho de segurança da ONU, foi para impedir a aprovação de uma resolução que interditaria o prosseguimento da instalação de colônias israelenses em território palestino.
Foi sob a liderança de Barack Obama que a principal organização agressiva do imperialismo, a Otan – Organização do Tratado do Atlântico Norte – realizou uma reunião de cúpula que consagrou o “novo conceito estratégico”, a partir do qual se arroga o direito de intervir militarmente em qualquer região do planeta. É também Obama que estimula a instalação de bases militares em todo o mundo, inclusive na América Latina, onde a 4ª Frota constitui grave ameaça de agressão aos países e povos soberanos da região.
Durante a gestão de Barack Obama que, reafirmando a primazia norte-americana quanto à posse e uso de armas nucleares, exerce chantagens, pressões, ameaças e sanções contra os países que não aceitam os ditames dos EUA sobre a não-proliferação. Em dois anos de gestão, a maior parte do tempo dos operadores de política externa do presidente foi empregada na reparação de agressões contra o Irã e a Coreia do Norte.
Reiteramos nossa total divergência com a dubiedade da política externa dos EUA que mantém símbolos da guerra-fria como a manutenção do bloqueio a Cuba, as provocações contra a Venezuela e a Bolívia, a manutenção da prisão de Guantanamo e a presença de bases militares estadunidenses em nosso continente, que em nada contribui para o desenvolvimento de uma nova relação externa entre os povos. Os Estados Unidos nunca abriram mão de dominar nossos países e continuam considerando nosso continente como sua área de influência.
Obama chega ao Brasil num momento em que os Estados Unidos e seus aliados, principalmente os europeus, preparam-se, sob falsos pretextos, para perpetrar novas intervenções militares. Agora, no norte da África, onde, com vistas a assegurar o domínio sobre o petróleo, adota a opção militar como a estratégia principal. Os Estados Unidos querem arrastar as Nações Unidas para sua aventura, numa jogada em que pretende na verdade instrumentalizar a organização mundial e dar ares de multilateralismo à sua ação militarista e imperial.
No mesmo 20 de março, dia em que Obama estará visitando o Brasil, acontecerão manifestações em todo o mundo convocadas pela Assembleia Mundial dos Movimentos Sociais realizada durante o Fórum Social Mundial de Dacar, Senegal. O dia de mobilização global foi convocado para afirmar a “defesa da democracia, o apoio e a solidariedade ativa aos povos da Tunísia e do Egito e do mundo árabe que estão iluminando o caminho para outro mundo, livre da opressão e exploração”. O 20 de março será um Dia Mundial de Luta contra a multiplicação das bases militares dos Estados Unidos, de solidariedade com o povo árabe e africano, e também de apoio à resistência palestina e saharauí.
É nesse contexto que a Coordenação dos Movimentos Sociais convoca os movimentos sociais de todo o Brasil a manifestar nossa divergência com a política dos EUA e nossa total solidariedade aos povos do mundo, nas lutas de resistência e construção de outro mundo possível.
Convocamos os movimentos sociais brasileiros a tomarem as ruas na ação que será organizada no Rio de Janeiro no dia 20 de março.
O Brasil e a América latina vivem um novo momento, de democracia, soberania, interação e unidade.

Queremos um mundo de paz e solidariedade!
Abaixo o imperialismo estadunidense!


*CMS (CUT -MST -CMP –UNE –ABI -CNBB/PS -Grito dos Excluídos -Marcha Mundial das Mulheres -UBM
–CONEN- UNEGRO –MTD –MTST –CONTEE -CNTE -CONAM -UNMP -Ação Cidadania -CEBRAPAZ –ABRAÇO- INTERVOZES –CGTB –CNQ -FUP -SINTAP – ANPG – CTB – CMB - MNLM)

Abertas as Inscrições para o IV EME


Estão abertas as inscrições para o IV EME!!

A ficha de inscrição para participar do IV EME já está no blog da Direitoria de Mulheres da UNE, corre logo e garanta a presença!

Para se inscrever clique aqui!

O IV EME será dos dias 21 a 24 de Abril em Salvador - Bahia!

Mais informações em breve!
Estaremos divulgando tudo!!

Em breve divulgaremos também mais informações sobre a Etapa Estadual do EME, o nosso Pré-EME.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Frase Perfeita

"Porque eu tenho que ser bonita, thuthuca, inteligente, ter atitude, falar 4 linguas e o cara só precisa tomar banho e falar com certo nexo?"

*Frase de Auisy Belarmino,  explicando porque é tão difícil arranjar um namorado!

Questionamento à Lei Maria da Penha é carregado de intolerância e preconceito

Entrevista com Iriny Lopes, que ocupa atualmente a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres no Governo Dilma, sobre a Lei Maria da Penha. Vale à pena ler!


Amanhã (8) é o Dia Internacional da Mulher e, para a ministra da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes, há avanços para se comemorar, mas, também, muita preocupação com a consolidação dos direitos alcançados. Uma ameaça real às conquistas dos últimos tempos, na sua opinião, são os questionamentos da constitucionalidade da Lei Maria da Penha que, hoje, se reproduzem em várias comarcas e tribunais.

A lei que garante punição para a violência cometida dentro de casa, motivada pela questão de gênero, chegou a ser classificada como “diabólica” por um juiz. Além disso, o artigo que garante que a vítima não será coagida a retirar a denúncia vem sendo questionado nos tribunais superiores. Para Iriny Lopes, há “intolerância e preconceito”.

A ministra assumiu como primeira tarefa de sua gestão estabelecer um diálogo com os magistrados para sensibilizá-los da importância da aplicação da lei tal como foi aprovada. Segundo ela, os juízes precisam aproximar-se mais das questões da população. “A alma da Lei Maria da Penha é que a mulher não seja coagida”, disse a ministra, em entrevista à Agência Brasil. Iriny também defendeu a formação de um banco de dados confiável para medir a dimensão da violência contra as mulheres.

Agência Brasil – A Lei Maria da Penha foi aprovada e sancionada no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, mas, até hoje, há problemas com sua aplicação efetiva. Até a constitucionalidade da lei que protege as mulheres em relação à violência cometida dentro de casa vem sendo discutida no meio judiciário. Um juiz da cidade mineira de Sete Lagoas chegou a chamar a lei de “diabólica”. Como convencer as pessoas da necessidade de aplicação dessa lei?

Iriny Lopes – Primeiramente, seria prudente, seria bom para o Brasil que o Poder Judiciário se aproximasse um pouco mais do que são os anseios da população. A Lei Maria da Penha foi considerada pelas Nações Unidas como uma das três melhores legislações do mundo de proteção à mulher e instrumento eficaz e rigoroso contra a violência doméstica. Uma pesquisa recente mostra que 63% dos brasileiros conhecem e apoiam a Lei Maria da Penha. É um índice altíssimo. Nós poderíamos arriscar a dizer que é a lei brasileira mais popular de toda a história. O que ocorre no interior do Judiciário reflete o que vai também na sociedade. Em alguns casos, eu não generalizo, trata-se de intolerância e preconceito.

ABr - Mas não cabe ao juiz, desembargador ou ministro prezar pela aplicação da lei?

Iriny – Ao examinar um processo, aquela leitura é feita de forma contaminada pelo preconceito e pela cultura de que é natural a violência. Trata-se da naturalização da violência praticada contra a mulher e alguns magistrados já vão imbuídos dessa conduta.

ABr - Como é que o Executivo pode tratar esse assunto sem que isso caracterize invasão de Poderes ou atribuições?

Iriny – [Em] Alguns casos, é discussão sobre doutrina e é nessa ótica que queremos tratar e já estamos dialogando com o Judiciário.

ABr
– O artigo da lei que não permite que a queixa seja retirada pela vítima causou discussão no Congresso [Nacional] e ainda é um ponto que muitos não aceitam. [Alguns parlamentares] Alegam que, diferentemente de outras leis, a vítima, nesse caso, a mulher, não pode se arrepender da denúncia. Como superar essa discussão?

Iriny – Posso falar [disso] com uma certa tranquilidade porque fui relatora da Lei Maria da Penha quando ela estava sendo apreciada pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. O ponto contestado é o Artigo 16, que trata da ação ser ou não condicionável. A lei é clara. A mulher pode retirar, sim, a queixa, mas perante a um juiz, em audiência. Então, não há a alegada inconstitucionalidade. Existem coisas, como esse questionamento, que nos deixam perplexos. Mas a perplexidade não vai nos tirar a capacidade de ação.

ABr – Não dá para abrir mão desse ponto para manter as penalidades previstas na lei?

Iriny – Esse ponto é indispensável. As varas especializadas tanto na Justiça como na promotoria são importantes. As delegacias, núcleos e casas-abrigo são também importantes, a qualificação dos profissionais, servidores públicos que vão receber as mulheres [tudo isso] é também importante. A obrigatoriedade de uma central de dados é importante, mas o mais importante de tudo, a alma da Lei Maria da Penha, é que a mulher não seja coagida. Esse artigo a protege para que ela não seja constrangida a retirar a ação.

ABr – A senhora esperava esse embate com setores do Judiciário?

Iriny – Não se trata disso. Há questões que temos que enfrentar de forma decisiva e estou me esforçando nesse diálogo. Houve uma decisão recente no Superior Tribunal de Justiça (STJ) que nós, do governo, consideramos muito ruim. A decisão dá um prazo à mulher para ver se ela vai mesmo manter a ação. O agressor, ao saber disso, vai agir. A intimidação da vítima, nesse caso, é líquida e certa.

ABr – A senhora considera que essa decisão tem um caráter discriminatório?

Iriny – Sim. Quando se tem uma briga entre dois homens, por um motivo qualquer, um deles registra queixa e isso evolui para um processo, nunca se pergunta a ele se ele quer retirar a queixa ou não. Muito menos é dado a ele prazo para confirmar essa denúncia. Por que essa distinção em relação à mulher? Por que a Justiça tem que perguntar isso a uma mulher? Ela é vítima de agressão, ela apresentou denúncia. A denúncia foi objeto de inquérito, que originou uma denúncia do Ministério Público para, depois, virar um processo. Nesse tempo todo, se ela tivesse se arrependido, ela poderia ter ido lá e falado: "Doutor, quero retirar a queixa". Não tem porque o Judiciário perguntar isso a ela.

ABr – Outro questionamento é em relação à especificidade da própria lei que protege as mulheres. Como driblar isso?

Iriny – Já me perguntaram, ao vivo, em uma entrevista: por que não há, então, uma lei especial para homens? Eu simplesmente respondi: porque não precisa. Os homens não são agredidos porque são homens. Eles são agredidos em brigas por ciúme, por bebida, por qualquer outra coisa, mas não por serem homens. Já a agressão de gênero ocorre só contra a mulher. É por isso que há a necessidade da lei. A motivação da agressão por gênero não consegue ser atingida pela legislação comum.

ABr – Que características a senhora enxerga na chamada “violência de gênero”? Como caracterizar esse tipo de crime?

Iriny – É uma violência que vem em uma curva crescente. Começa com uma agressão psicológica, do tipo: ′Você está parecendo uma p... com essa saia`, `Não tinha uma outra roupa não?`, `Esse batom está escandaloso`, `Nossa, tenho até vergonha de ficar perto de você`. Depois passa para ameaça. O parceiro diz: `Se você for trabalhar com essa roupa, não precisa mais voltar porque você não entra mais aqui`. Depois passa para uma sacudida, depois um tapa, depois uma surra, depois o corte de dinheiro. Não passa um recurso no caso de haver um só provedor, depois cárcere privado, deixa a mulher trancada e diz que só pode sair com ele. Se sair sem ele, quando voltar, mais surra, até chegar à morte, que pode acontecer de forma premeditada ou mesmo em consequência das sucessivas violências. Vai batendo, batendo, até a mulher não resistir. É por isso que esse tipo de crime tem que ter uma legislação específica que não podemos chamar nem de especial. Trata-se de uma legislação especializada.

ABr – A senhora considera que a lei já teve um efeito de diminuir esse tipo de violência?

Iriny – Nós podemos medir a Lei Maria da Penha e sua importância para as mulheres do país pelo Disque 180, o nosso disque-denúncia. O número de denúncias ampliou-se enormemente. Tem muita gente dizendo que a violência aumentou. Eu não acho isso. O que aumentou foi a confiabilidade das mulheres. Elas sabem que podem denunciar porque serão protegidas e seus agressores serão exemplarmente punidos. É isso, as mulheres brasileiras acreditaram que poderão deixar de ser vítimas de violência porque, agora, têm uma lei que as amparam.
ABr
– O que pode acontecer caso essa lei seja considerada inconstitucional?

Iriny – Se as mulheres forem frustradas no acesso ao seu direito, sustentado na Lei Maria da Penha, nós teremos um retrocesso e corremos o risco de ter aumento dos homicídios, que já não são poucos.

ABr – Como está o cenário de homicídios de mulheres provocados pela violência doméstica?

Iriny – Nossos dados estão muito atrasados. Há pouco, foi divulgado o Mapa da Violência, mas ainda não se têm mecanismos confiáveis para distinguir se as mortes são originadas pela violência doméstica ou o crime comum. Não dá para saber a quantidade de mortes que ocorrem motivadas por violência de gênero. Os dados que as polícias enviam são dados misturados.

ABr – Como resolver essa carência de dados que poderiam alimentar, inclusive, outras políticas públicas voltadas para a redução da violência?

Iriny – Nós vamos trabalhar num novo banco de dados no Brasil. É preciso que se tenha um formulário diferenciado. Na hora do óbito, a própria polícia tem que poder registrar que foi uma briga com o marido, com o namorado, com o pai ou com o irmão. Estamos ainda discutindo como será esse formulário. Ele ainda não existe, mas a própria Lei Maria da Penha determina a criação de um banco de dados no país.

ABr – Quando as polícias poderão contar com esse novo formulário?

Iriny – Estou falando em formulário porque foi a primeira forma pensada para a formação desse banco de dados, mas podemos utilizar outro mecanismo. Nesta semana, eu conversei sobre esse assunto com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e estamos criando um grupo de trabalho para discutir a forma de constituir esse banco de dados e alimentá-lo com dados confiáveis. Esse banco de dados tem que nos dar a informação, por exemplo, do número de homicídios de mulheres no país, quais mortes estão relacionadas à violência doméstica e à intolerância de gênero.

Da Agência Brasil

sexta-feira, 11 de março de 2011

Carta aberta para Sandy

Vou te dar um conselho… de mulher pra mulher: você não precisa ser santa, nem puta. Você pode ser livre.
Por Tica Moreno*

Quando eu estava no ensino médio, você fez um desserviço pras meninas da minha idade, que é a mesma idade que a sua.

Foi a época da “garota sandy“: uma jovem, bonita, magra, de cabelo liso, a filha que todo pai e mãe queria ter, rica…. e virgem. E que afirmava que queria casar virgem.

A garota sandy era aquilo que nenhuma de nós éramos, mesmo que a gente tivesse uma ou outra característica dessas aí de cima. A verdade é que a gente nem queria ser daquele jeito.

Foi a primeira vez (que eu me lembre) que eu me vi sendo comparada com um modelo de mulher que eu não queria ser. E eram os outros que nos comparavam. Aí a gente foi se sentindo inadequada, umas mais, umas menos.

Qual era (qual é) o problema de não casar virgem? (Isso pra não perguntar qual é o problema de não querer casar…)

Você não acha um problema de fato, até porque há alguns anos você afirmou que não tinha casado virgem. Fico até aliviada por você, porque imagina se não fosse bom com seu marido? Ainda mais se a relação de vocês for monogâmica e conservadora… Não desejo uma vida sem orgasmo nem pro meu pior inimigo.

Mas voltando. O padrão “garota sandy” não foi uma reportagem qualquer que saiu na revista da folha. Reforçou um padrão que faz com que a anorexia e a bulimia estejam entre as principais doenças de jovens mulheres, que faz com que milhões de meninas e mulheres vivam sua sexualidade a vida inteira de forma passiva, em função do desejo e do prazer do cara, que faz as meninas e mulheres que são donas do seu desejo serem consideradas vadias, vagabundas, putas, devassas.

O machismo faz isso: separa as mulheres entre santas e putas, “valoriza” as santas e puras e desqualifica, discrimina, violenta as “putas”.

Deve ter algum motivo pra você se afirmar como santa, e não como puta, numa época da sua vida.

E daí eu vou te dizer, caso você ainda não tenha entendido o porquê dessa carta aberta, seu segundo desserviço pras mulheres. Ser a nova garota devassa.

Pra quê?? De dinheiro você não precisa.

Você não estudou psicologia? [Não, me disseram aí nos comentários que ela estudou Letras, mal aê - mas eu lancei um google e vi que na época do meu ensino médio, de onde eu tirei a memória pra escrever esse post (ano 2000), circulou a informação da psicologia, rs.] Deveria ter aprendido alguma coisa sobre sexualidade teoricamente, além da prática (que, de novo, espero que seja boa pra você).

Nem as santas, nem as putas, são donas do seu desejo, do seu corpo, da sua sexualidade. O símbolo da devassa, e o imaginário que essa cerveja construiu – e que você vai propagandear – é o de uma mulher feita nos moldes do que a maioria dos homens tem tesão por. Importa o tesão deles, e não o nosso.

As revistas femininas (e as masculinas) fazem isso também. Sabe aquelas dicas da Nova pra fazer qualquer mulher deixar qualquer homem louco na cama? Então. É o mesmo machismo, a mesma submissão.

Você de alguma forma tá querendo apagar a imagem de santa, usando a idéia de que você pode ser devassa?

Vou te dar um conselho… de mulher pra mulher: você não precisa ser santa, nem puta. Você pode ser livre.

* Tica Moreno é formada em Ciências Sociais, foi do DCE da USP e do Centro Acadêmico de Ciências Sociais (CEUPES). Atualmente trabalha na Sempreviva Organização Feminista, SOF. Tica é militante da Marcha Mundial das Mulheres.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Pacto de Gravidez

Vocês lembram de uma história que 18 adolescentes numa escola no EUA ficaram grávidas juntas em 2008?
Eu assiti esse filme e fiquei chocada! Nem parece que estamos no séc. XXI, nem parece que as mulheres já conquistaram tantas coisas... fora a recusa de muitos colégios de disponibilizarem contraceptivos, temos um reafirmamento do papel maternal das mulheres nos últimos anos, uma nova onda "familiarista" e conservadora.

Esse filme é inspirado pela verdadeira história de adolescentes em Gloucester (Massa.) High School, que concordaram em ficar grávida, ao mesmo tempo.

dá pra assistir aqui.

terça-feira, 8 de março de 2011

Feliz dia Internacional das Mulheres




Queremos desejar a todas as mulheres lutadoras, guerreiras e acima de tudo companheiras um ótimo dia, e uma ótima vida, com muita luta pela nossa frente! Luta contra todas as formas de opressão que temos nesta sociedade tão conservadora e arraigada de valores moralistas e patriarcais. Este dia pra além de ganhar rosas e chocolate é um dia pra se manifestar contra todas as injustiças que as mulheres sofrem hoje e já sofreram!

Queremos uma sociedade igual, onde homens e mulheres tenham os memos direitos e sejam tratados da mesma forma, teremos assim, uma sociedade sem machismo, sem homofobia e sem racismo!!!

Seguiremos em Marcha até que Todas Sejamos Livres 


Confira o link com a verdadeira história do 8 de março!

sábado, 5 de março de 2011

Divulgando: arrastão do Pavulagem neste domingo, dia 6.

Neste domingo de carnaval (06), o Projeto "Música para Todos II" trará à Praça da República o grupo Arraial do Pavulagem. Com um repertório composto por músicas e sons regionais, o grupo fará um show para todas as idades, a partir das 10h30. A programação é gratuita.

Fonte: Guiart.com.br

sexta-feira, 4 de março de 2011

Governo Kassab Despeja o CIM - Maior acervo feminista da America-Latina

Em mais uma ação, entre as inúmeras que expõem a política higienista característica dos governos demotucanos, a Prefeitura de São Paulo “presenteou” as mulheres com o desalojamento do CIM – Centro de Informação da Mulher, maior acervo/biblioteca da mulher da América Latina.

Com 12 mil livros, 1.700 títulos de periódicos, 3.060 cartazes nacionais e internacionais, sobre a história da vida e lutas das mulheres, o CIM é referência para pesquisadores de dentro e de fora do Brasil, estudantes, movimentos sociais e população em geral.

Organização feminista, não-governamental, o CIM foi criado em 1981 para restituir a história/memória da mulher, com intuito de fortalecer as lutas e os movimentos sociais contra o patriarcalismo/capitalismo, manifesto nas relações de opressão de toda ordem.

Desde 1991, o Centro ocupava um espaço na Praça Roosevelt, 605, graças a um decreto de permissão de uso assinado pela então prefeita Luiza Erundina. Por duas décadas, o CIM serviu também para acolher reuniões e atividades de muitos movimentos e grupos, pela localização central e característica de espaço. Tornou-se a sede de reuniões históricas para organização das manifestações do 8 de Março, entre outras mobilizações feministas.

Desta forma, organizadoras e apoiadoras do CIM lançaram um abaixo-assinado e manifesto contra mais essa ação que privatiza o direito à cidade, à circulação, acesso, informação, à memória.

De acordo com o documento, que começou a circular em listas pela internet e entre os movimentos, o despejo do acervo do CIM reforça o “autoritarismo que tomou conta das subprefeituras, a falta de planejamento da gestão pública que se reflete na falta de vagas nas creches e terceirização da saúde, o preço abusivo das passagens de ônibus, a violência policial, a criminalização da pobreza, o déficit de moradias populares”.

O manifesto contra o desalojamento da memória e história da Mulher compara a ação com o “sucateamento das delegacias de mulheres, reflexo do descaso em relação ao Pacto de Enfrentamento a Violência contra as Mulheres, e por extensão, a frouxidão no cumprimento da Lei Maria da Penha”.

No documento, que elenca ainda outros projetos desenvolvidos pelo CIM, de combate à violência contra a mulher e difusão da informação/prevenção às DST/AIDS na região central, as organizadoras e apoiadoras do Centro exigem o direito de continuar existindo como entidade pública em favor da preservação da memória e das lutas das mulheres.

Fonte: PT São Paulo.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Documentário “Muito prazer, mulheres do PT”

“Muito prazer, mulheres do PT” é o nome do documentário que resgata a história da participação das mulheres na construção do Partido dos Trabalhadores. É uma produção da Secretaria Nacional de Mulheres do PT (SNMPT) e começou por ocasião dos 30 anos do Partido.

“Representa o esforço do PT, por meio de sua Secretaria Nacional de Mulheres, para resgatar, registar e oferecer, em especial às novas gerações de petistas, uma síntese da influência das mulheres na construção e consolidação dos princípios que fundamentam o Partido dos Trabalhadores”, diz a sinopse.

Para resgatar e registrar a participação e influência das mulheres na história do PT ao longo desses 30 anos, a SNMPT baseou-se em duas fontes principais: documentos do arquivo da Fundação Perseu Abramo e de militantes, e depoimentos de companheiras que participaram ativamente da construção dessa história.

Segundo a secretária nacional de mulheres do PT, Laisy Moriére, o documentário de 60min da uma boa noção de como o PT exercita e busca aperfeiçoar no seu interior a vivência democrática. “Embora, esteja focado na atuação das mulheres, o vídeo faz reviver as lembranças de qualquer militante petista, especialmente de quem está no Partido desde a sua fundação, e revela para as gerações posteriores porque o PT é o que é. Realmente vale a pena rever um pouco dessa história”, afirma a secretária.

O documentário será exibido aqui dividido em 7 capítulos. Clique aqui pra assistir

Fonte: site do PT.

Comentário nosso: no Brasil, o PT foi o primeiro partido a compor suas direções com cota de 30% de mulheres. Além disso, foi pioneiro na luta pela cota de 30% de candidaturas femininas nas eleições proporcionais.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Fora trote machista da universidade!

*Por Clarissa Alves da Cunha

Mais um semestre se inicia e ainda há quem diga que não existe machismo na universidade - alguns acreditam que ele nunca existiu, outros que ele já está superado. Infelizmente, essa não é a realidade encontrada pelas estudantes nas faculdades: inúmeras situações nos mostram que o machismo ainda está muito presente.

O machismo existe na universidade assim como existe na sociedade como um todo, mas a universidade deveria ter o papel de transformar a sociedade combatendo essas desigualdades que a estruturam, e não reproduzindo essas opressões.

Ainda somos minoria nos postos de liderança - nas reitorias, chefias de departamentos, faculdades. Quantas mulheres reitoras conhecemos? Mesmo nos cursos majoritariamente ocupados por mulheres, muitos homens acabam se mantendo nos cargos de direção.

O currículo de grande parte dos cursos de graduação não possui recorte de gênero. Disciplina que discute gênero, quando existente, se resume a uma eletiva. E depois de formadas? Recebemos salários em média 30% inferiores aos dos homens. Apesar de sermos maioria nos bancos da universidade, desde a década de 80, a desigualdade permanece, somos marginalizadas e os trotes machistas refletem essa situação.

Se hoje nós, mulheres, representamos a maior parte do corpo discente da universidade sendo 55% das/dos estudantes matriculadas/dos, precisamos radicalizar nossa luta pelo fim dos trotes machistas. Hoje somos a maior parte das/dos estudantes, e, portanto, podemos afirmar que os trotes humilhantes atingem a maioria do corpo discente brasileiro.

Até mesmo nas representações discentes percebemos a reprodução da lógica discriminatória. É possível perceber ainda que, mesmo em cursos onde estamos em ampla maioria, os centros acadêmicos e, especialmente, as comissões de trotes e chopadas têm uma maioria de participação masculina. Exatamente nesses cursos, percebemos a utilização da imagem da mulher associada a “consumo”, dessa forma, “objetificando” as mulheres na divulgação dessas atividades. É bem simples a exemplificação: quantas vezes nos deparamos com cartazes de calourada dos cursos de enfermagem, fisioterapia e serviço social – majoritariamente femininos - com imagens dentro desse perfil?

Mesmo no período de férias da maior parte das universidades, iniciamos o semestre com um duro acontecimento para a vida das mulheres estudantes. No trote de agronomia da UnB as estudantes participaram de uma atividade intitulada de "festa da humilhação". As estudantes calouras foram obrigadas a encenar um ato de sexo oral com uma linguiça em público, oferecida pelo presidente do D.A, que estava vestido com trajes de mulher e carregando uma faixa presidencial fazendo referência a primeira mulher eleita presidenta no Brasil.

Uma menina que passa por uma situação como esta com certeza levará essas cicatrizes ao longo de sua graduação. É colocado para esta estudante, em seu primeiro contato com a universidade, o papel que ela deverá incorporar ao longo da sua vida universitária e também para além desta. Este papel de inferioridade, de subordinação, nos diz que não temos o mesmo direito que os homens de pertencer a este a espaço. É muito claro que ao sermos recebidas, após muita dedicação para entrarmos na universidade, de maneira humilhante e machista, nos é impelido a ocupação deste espaço de determinada forma, ou seja, a subordinação ao desejo dos homens. Além disso, independentemente do nosso desempenho acadêmico, iremos estudar ao longo de nossa graduação ao lado de meninos que se sentiram no direito de nos humilhar publicamente de forma machista apenas pelo fato de sermos mulheres.

O constrangimento e símbolos incutidos nesta situação de trotes vão na contra-mão da proposta de receber os calouros nas universidades, sendo que a proposta de realmente receber os estudantes é plenamente possível, seja com debates, projetos ou confraternizações culturais que dão outro a caráter ao trote, como os trotes solidários. O movimento estudantil como um todo, em todas suas entidades, deve colocar um fim nos trotes machistas e humilhantes nas universidades. Eventos como o ocorrido na UnB desmoralizam as estudantes perante a sociedade e prestam um desserviço a todas/os que constroem um movimento estudantil que luta por uma educação socialmente referenciada que sirva à superação das opressões, do machismo, da homofobia e do racismo.

*Clarissa Alves da Cunha é militante da Marcha Mundial das Mulheres e Secretaria Geral da União Estadual dos Estudantes do Rio de Janeiro.

Chamada geral da Marcha das Margaridas

terça-feira, 1 de março de 2011

Reflexões em época de pré-carnaval

Este ano o nosso dia de luta, o 8 de março, cairá na folia, pois vai coincidir com a terça-feira gorda. O período faz as "cenas" em que as mulheres figuram somente como objetos se multiplicarem, são as bundas e peitos da apoteose. Por isso, é importante (re)afirmar que somos mulheres e não mercadoria e que o nosso corpo e a nossa sexualidade nos pertencem! O texto abaixo foi encontrado quando estava fuçando os "blogs da vida", é uma crítica ao concurso Rainha das Rainhas do Carnaval Paraense. Muito boa reflexão em época de pré-carnaval.

O Carnaval do Sistema escravocrata machista com os dias contados no Grão Pará

O dote é uma antiga prática herdada dos portugueses, fatos de insensatez, machismo e barbárie do colonialismo no Brasil, que só merece ser relembrado para ser aniquilado e combatido de uma vez por todas.

Esta prática assegurou, dentre outras coisas, a existência do sistema econômico escravocrata de produção de riquezas e multiplicação da miséria brasileira que usava a mulher como mercadoria. Na negociação era a própria filha do barão que era vendida a outro filho de barão em união matrimonial selada pela igreja católica para unir riquezas e multiplicar carências afetivas, violência conjugal, e abandono da coisa amor.

As moças que não tinham riquezas financeiras, não tinham dote, assim não teriam chance de casar-se com um “partidão” e ascender economicamente, e corriam o risco de não casar mesmo que o pretendente fosse pobre. Ficar solteira significava não ter respeito diante da sociedade, trabalhar no campo, no meretrício, viver na mendicância, no mercado informal, ser escravizada de alguma forma e ser ridicularizada e submetida ao título de “titia” ou outras injúrias e calúnias de origem promíscua.

Pensando em promover-se politicamente no Grão Pará através de ações sociais, um grupo de aristocratas criou um concurso de beleza que se chamava “Um dote para uma moça pobre”, divulgado no jornal “O paraense” (Belém, abril de 1892) este concurso consistia em doar à mais bela felizarda um dote de quantia de dinheiro e enxoval de casamento junto à merecendência da companhia de algum filho de dono-da-terra que estivesse dando sopa por aí (de acordo com aspirações políticas ou coisa que valha).

O corpo de uma mulher até se vende, mas o coração resiste e não se entrega jamais.
Parece que, não durou muito tempo, pois a doce luta pelo poder, dizem as más línguas que no meio da disputa pelo poder, denunciaram em escândalo high society que algumas moças vencedoras do concurso já eram filhas do dinheiro, da borracha e do glamour, por medo da classe de misturar-se ao sangue tapuio, a farsa foi desfeita em nome duma eugenia mal lapidada.

Muitos anos depois, em 1947 alguém resolveu ter a “grande idéia” de resgatar estes valores, para não repetir o vexame do golpe burguês, criou o Rainha das Rainhas do Carnaval, estreito e restrito à elite, com toda a pompa das fantasias luxuosas e, lógico, de gosto estético alienígena e escalafobético. Na década de 60, a nova grande idéia foi da família Maiorana, e assim a família paraense vem reproduzindo esta prática imoral de exploração do corpo feminino, cada vez mais carregando os pesos, da sociedade e das fantasias, cada vez mais se equilibrando no sapatos de saltos altíssimos com as coreografias mais absurdas a mulher paraense vem aprendendo a admirar um modelo artificial de folia , politicamente falido e esteticamente risível, nossa maior expressão de mentalidade colonialista.

Enquanto isso as escolas de samba que nascem e se desenvolvem na periferia, da criatividade franca dos barracões, das coletas de tostões e rifas dos trabalhadores e trabalhadoras assalariados, passam por sucessivas humilhações pra sair na avenida com algum brilho e alegria, o valor da subvenção não chega à metade do valor de uma fantasia de candidata à rainha.

O Rainha das Rainhas do carnaval é, portanto, o lado mais grotesco, cafona e medíocre da pior farsa elitista do estado do Pará, e tem mais títulos também, como o de maior afronta à dignidade da mulher paraense.

Precisamos começar a refletir seriamente sobre este tema, para que as mulheres superem de uma vez por todas este um molde escravocrata e subserviente desse espartilho que nos aperta, fere e sufoca nossos desejos de liberdade, respeito, expressão e de folia.

Texto de Isabela do Lago.
http://mulheresluzienses.blogspot.com/