quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A briga dos 30%

por Gisele Dantas*

Num país onde 66,24% da população queria uma mulher na presidência no 1º turno, porque é tão difícil compor um ministério tendo 30% de mulheres como ministras? Eu venho me fazendo essa pergunta desde que a Dilma, nossa presidenta, resolveu enfrentar essa maratona. Nos jornais não se fala em outra coisa, a não ser nas fofocas de corredor, em que partidos e forças políticas não conseguem (ou não querem) indicar mulheres para ocupar suas pastas no governo. Qual será o problema afinal, de qualificação? De preferência? De capacidade? Falta de quadros? Na grande dança-da-composição do governo da Dilma, o "fardo" da cota das mulheres está sendo empurrado de mão em mão, e ninguém quer comprar a prática politicamente correta, nem os partidos de esquerda.
O que eu observo é que a participação das mulheres na política brasileira é um fenômeno complexo, pois aparentemente avançamos muito por ter 2 mulheres disputando fortemente a presidência da república (elegemos uma delas inclusive), mas isso não se reflete na participação cotidiana, no executivo estadual ou no legislativo. Quando olhamos os dados estatísticos não conseguimos perceber um crescimento constante da participação das mulheres, aliás, o gráfico de crescimento não se altera desde o boom da constituinte, onde dobramos o número de assentos.
Não é de hoje que tentamos, através das cotas, aumentar a participação política das mulheres. No legislativo temos a lei dos 30% desde 97 e nunca conseguimos alcançar 1/3 disso. Na Câmara dos Deputados (pode se dizer “dos” mesmo), são apenas 48 mulheres, num universo de 540 deputados, o que quer dizer 8% de representação a legislatura 2007-2011, e este ano foram 45 mulheres eleitas deputadas federais, ou seja, nada mudou!
E pra completar o jornal O Globo quer fazer enquete para decidir quem é a “musa do congresso”, pra saber quem vai ser a parlamentar mais gostosa dessa legislatura!!!! Já não basta serem poucas, ainda têm que superar o machismo.
No senado a coisa não é diferente, temos 10 senadoras no período 2003-2015 (pois a legislatura é de 8 anos), num total de 81 senadores. Nas eleições de 2010, dos 54 eleitos apenas 8 são mulheres, e isso não representou aumento do número de mulheres no senado como um todo.
Alguns dizem que a baixa representatividade da mulher brasileira na política é uma questão de desenvolvimento social, pois temos uma democracia ainda recente em nosso país. Este pode ser um fator, relevante, mas não explica tudo. Em países bem menos desenvolvidos como Ruanda, por exemplo, tem uma representatividade de 48% de mulheres no parlamento. O Brasil é o 146º em representação feminina no parlamento e fica entre os 10 primeiros em crescimento econômico.
 A verdade é que o nosso crescimento tem sido lento em ocupar o espaço político, quase na estagnação. Neste ritmo, levaremos mais 2 séculos pra ocupar metade da casa, o que seria o socialmente justo, já que representamos 51% do eleitorado. E ainda dizem que já conquistamos todos os nossos direitos!
A Dilma tem uma tarefa árdua de mudar a história e enfrentar o machismo onde ele mais influencia na vidas das mulheres e onde parece que ele está mais arraigado, nos espaços de poder. E nós ainda temos muita luta pra fazer.

* Gisele Dantas é estudante de Direito da UFPA e militante da Marcha Mundial de Mulheres.

3 comentários:

Tatiana Oliveira disse...

Texto bacana, Gi. Vou tentar colocar no Blog da Ofensiva.

direitosparatodos disse...

gi, só um dúvida: esse dado que mais de 60% das pessoas queriam uma mulher presidenta é de onde e quando foi feito?
o resultado da eleição: foi cerca de 55% pra dilma no segundo turno.

bjus e ótima análise.
vamos seguir mudando!

Ricardo Melo
advogado

Gisele disse...

Ric, no texto está se referindo ao 1º turno, votação de dilma + marina Silva.

Dá uma olhadinha de novo!

bjos