* Mariah Aleixo
O Encontro Nacional de Estudantes de Comunicação (ENECOM) 2011 aconteceu em Belém de 22 a 29 de julho. Como estava na cidade em pleno mês de férias e tinha conhecidos que iam ao encontro, participei de algumas programações culturais do evento.
O que mais chamou minha atenção logo na primeira festa foi a quantidade considerável de homens vestindo uma peça conhecida do vestuário feminino: saias! De todos os tamanhos, estilos, gostos. Combinadas com maquiagem, rabos de cavalo, chapéus, enfim, os looks eram variadíssimos! O fato quase que pitoresco despertou o interesse dos “intrusos” do evento – inclusive meu e de amigos, “caretas” estudantes/ bacharéis de Direito.
Ouvi dizer que anos atrás, um menino que se vestiu de saia no encontro apanhou de outros meninos e que a partir de então, os demais rapazes, em solidariedade, começaram a vestir saia, o que resiste até os dias de hoje. Há quem diga que não houve “porrada”, mas sim grande hostilidade ao “pioneiro de saia”, que teria escutado todo o tipo de deboche e piadas de mal gosto.
Percebi, conforme os dias passavam que o número de homens de saia aumentava e a curiosidade das pessoas também. “São todos gays?”, “Por que se vestem assim?”, “De onde veio isso?”, era o que se perguntava e na mesma proporção, versões como essas que citei iam surgindo, e tantas outras mais.
Independente da veracidade e da quantidade das versões notou-se algo comum a todas: é uma história de preconceito e discriminação transformada num ato de resistência! Os meninos estavam ali, independente da orientação sexual que tinham, usando saias para “causar”, ser irreverente, mostrar-se contra qualquer tipo de intolerância à diferença. Pareciam saber que as pessoas iriam mesmo questionar, não somente os “intrusos” como eu e meus amigos, mas cada estudante recém-chegado dos cursos de Comunicação Social do país inteiro.
Ora, mas vocês podem estar perguntando: que raios uma estudante de Direito, num blog feminista, está escrevendo um post sobre os homens de saia do ENECOM? Lembrei disso por causa da Marcha das Vadias de Belém, que as meninas que escrevem nesse blog e tantas outras da MMM/PA estão ajudando a tornar realidade.
Penso que quando estivermos passando com trajes ousados e irreverentes e faixas e placas do tipo: “Machismo mata”, “Meu corpo, minhas regras”, “Eu uso saia curta e exijo respeito”, “Me visto pra mim e não pra você”, as pessoas reagirão da mesma forma que fizeram e fazem com os homens de saia do ENECOM. Perguntarão coisas do tipo: “O que essas vadias fazem aqui na rua?”,” Por que tudo isso?”, “Quem são essas feministas?”.
E é justamente essa a reação que queremos causar! Semelhante ao “movimento pró-saia” no ENECOM, a Marcha das Vadias remete a um caso de discriminação e preconceito (ver o posts anteriores) e coloca as pessoas para refletir por meio do choque, desde o nome, as ações diretas feitas nas marchas pelo mundo afora, até as roupas usadas pelas manifestantes e os cartazes com fortes dizeres.
A comparação que fiz dá conta de mostrar um pouco o quanto a criatividade é sempre uma aliada na luta por um mundo sem desigualdade! E por fim, um recado aos “compas” que vão se juntar a nós no dia da marcha: que tal ir de saia?
Na foto, um escocês com o traje típico. O famoso Kilt, saia usada pro homens na tradição do país.
* Mariah Aleixo é estudante de Direito e militante da Marcha Mundial das Mulheres/ PA.
Um comentário:
Sério Mariah... nunca pensei que os estudantes de comunicação fossem tão solidários!
Ainda existe esperança no mundo para além do comercial da coca-cola!
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