Por Lorena Abrahão
Só
uma mulher acima, quer dizer, bem acima do peso padrão é capaz de entender a
intensidade deste questionamento.
Pois
é mesmo verdade que há os que acreditam que gorda é sinônimo de inFELICIDADE. E
o que é pior, há casos em que é a pura verdade.
Me
chamo Lorena, 27 anos e cheguei na casa dos 100kg. Desde sempre tive tendência
para engordar. Para uns isto quer dizer que sempre comi muito e nunca fiz
atividade física. Disciplinada?! Hum...bem longe das gordinhas.
Por
alguns anos, vivi o lado mais fácil da pressão da sociedade, para a sociedade.
Fazia dos mais diversos sacrifícios para manter-me... como dizer?! Gostosona.
Sim, era isso que eu era. A felicidade na minha vida ainda era relativa. Acho
que resumia-se a “ficar” com o carinha que eu queria quando queria. Ir à casa
de praia vez em quando. E
não sei o que mais.
Só
sei que felicidade era muito pouco para o estado de espírito que hoje consolido
na minha vida.
Sendo
a vida uma caixinha de surpresas, aos 23 anos submeti-me a uma cirurgia de
relativa emergência, por ter sido diagnosticada com câncer na tireóide. Não,
meu mundo não caiu. Aliás, até acho que caiu, mas não passou nem mesmo de 24
horas. Cirurgia, radioiodoterapia, isolamento, reposição hormonal, mudanças
fisiológicas diversas...um turbilhão de coisas.
Onde
mais houve um turbilhão de mudanças, foi na ordem de prioridades das coisas, da
vida. Aos poucos percebia que a vida tinha um sentido bastante diferente do que
imaginava (pouco imaginava) antes.
A
retenção de líquido começou a me assustar. Os quilos foram somando-se,
somando-se, somando-se. 30kg a mais na balança. Todos notavam. O mais curioso é
que aqueles quilos pouco importavam para quem estava descobrindo um novo
sentido.
Não
virei evangélica, nem autora de auto-ajuda. Mas o segundos, os minutos, as
horas...o tempo, a vida tornaram-se tão mais intensos. De uma forma que as
mudanças estavam permitindo-me uma segunda chance. Um recomeço de vida a ser
vivida com bem mais intensidade.
O
“não” passou a ser a palavra menos pronunciada. Comecei a dizer “sim” e este
sim não era para quem esperava por uma resposta, era um sim para a vida, para
as coisas a serem vividas. O tempo começou a apresentar-se curto demais, pois,
muita coisa eu tinha (e tenho) para fazer.
Ta
ficando muito dramático o desabafo?! Desculpem-me, não era esta a intenção.
Quis
apenas falar para o mundo que ser gordinha, como intitulo-me, é o que menos
incomoda-me na vida. E que é muito chato quando perguntam o por quê de não emagrecer!
Ainda mais sendo eu o suficiente educada para não devolver com as respostas
mais homéricas possíveis.
Se
você estiver acima do peso estipulado como ideal e quiser elimina-los:
elimine-os, mas faça isso por você e que seja prazeroso. Se não quiser, seja
apenas feliz, mas não esqueça que a felicidade é efêmera demais para depender
apenas de um item.
É
óbvio que ter corpo e mente saudáveis são essenciais para viver com qualidade,
mas isso nem todos conseguem. Sabem a gordinha que vos escreve?! Ah, ela
consegue ter a alma leve e a auto-estima pesadíssima, de tão pesada transborda
de alegria e transborda amor próprio ao ponto de conseguir compartilha-lo com
muitos ao seu redor.
Então,
vos deixo-lhes com os seguintes questionamentos:
- É preciso estar
magra para estar de bem com a vida?
- Não estar de bem
com a vida 24h/dia, 365d/ano, todos os dias de sua vida é o fim dos
tempos?
- Só as mulheres
magras conseguem ter prazer e dar prazer ao fazer sexo? Você ficará sem
resposta se for daqueles que acha que gordas não fazem sexo.
- De quantos quilos
você precisou para formar-se na universidade e conseguir um bom emprego?
- De quantos quilos
você precisou para conhecer o amor de sua vida?
- De quantos quilos
você precisa para considerar-se o ser mais incrível do mundo?
- De quantos quilos a
gente precisa para ter um bom convívio familiar?
- De quantos quilos
você precisa para se respeitar e respeitar as pessoas?
- De quantos quilos a
gente precisa para conseguir ter alma e consciência leves?
- De quantos quilos
você precisará para atingir a realização dos seus sonhos?
E por último: De quantos
quilos é preciso para ser feliz?!
*Lorena Abrahão é letrada, assessora sindical e militante da Marcha Mundial das Mulheres desde 2008.
2 comentários:
Perfeito, Lorena! Amei o seu post!
Beijocas!
Lindo, Loh!
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