sexta-feira, 30 de outubro de 2015

SOMOS AS NETAS DE TODAS AS BRUXAS QUE NÃO PUDERAM QUEIMAR


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*Por Lorena Abrahão

Permita sentir a bruxa que existe dentro de você!

Logo nos primeiros anos escolares, iniciamos o contato com a imposição de que bruxas são feias, corcundas e más. De onde vem isso tudo, do folclore ou do machismo?!

Isso pode até justificar-se pelo folclore, mas basta se aprofundar um pouco na História que logo percebemos a relação com a cultura patriarcal, onde o gênero masculino domina o feminino.

Na sociedade celta (séc. VI a.C. até a Baixa Idade Média) homens e mulheres viviam em condições iguais. O sexo biológico não determinava a função de um indivíduo em seu lugar. Homens e mulheres tinham o mesmo poder de opinião, mas no passar dos anos esta configuração social foi se modificando. Chegado o período de transição da Idade Média (séc. V a.C.) para a Idade Moderna (séc. XV ao XVIII d.C.), as mulheres já não tinham direito à propriedade, ao voto, nem mesmo ao prazer sexual; mas bem sabemos que as mulheres não ficariam por muito tempo sem questionar a sua condição social.

Segundo a Revista Espaço Acadêmico (n°53, de outubro/2005), entre os séculos XV e XVI o Teocentrismo – doutrina que considera Deus como centro de tudo, decai dando lugar ao Antropocentrismo – onde o ser humano passa a ocupar o centro. O que conduz a uma instabilidade e descentralização do poder da Igreja. Na busca de recuperar o poder perdido, a Igreja Católica e Protestante instaurou os Tribunais da Inquisição, onde podemos ler “caça às bruxas”, movimento que ocorreu de diversas formas, reforçado pela classe dominante e pelo próprio Estado; com significado religioso, político e sexual.

Foram três séculos de perseguição política e social às mulheres, principalmente das que viviam no campo – por sua vez, estas eram conhecidas como “curandeiras”, mulheres com vasto conhecimento popular sobre a natureza e suas potencialidades, muitas vezes a única fonte de cuidado de saúde para mulheres e pessoas pobres. No geral suas aparências não correspondiam às padronizadas pela sociedade. Estima-se que nove milhões de pessoas foram acusadas, julgadas e mortas neste período, onde mais de 80% eram mulheres, inclusive crianças e moças que haviam “herdado este mal” (MENSCHIK, 1977: 132).

Os saberes das mulheres ameaçavam a dominação patriarcal impetrada pela Igreja Católica.

Já no início do século XX, nos Estados Unidos, inicia-se A Caça às Bruxas Comunistas, período conhecido como Marcatismo. Neste, o foco da perseguição era cultural, especialmente aos que ousassem manifestar-se em prol da aliança com a União Soviética ou com práticas anti-americanas.

Culturalmente tendemos a copiar tradições ruins, ainda mais com a imposição da Cultura Imperialista. O que percebemos, é que o Dia das Bruxas nada mais é do que a comemoração das mortes dos milhões de mulheres sábias e a tentativa de apagar a história de cada uma delas.

Foram séculos de mulheres e cultura feminina sendo queimadas nas fogueiras da Santa Inquisição, porém, dentro de cada mulher há a herança de cada bruxa queimada. No livro “Todas as Mulheres são Bruxas”, de Isabel Vasconcelos, você encontra a relação do ser bruxa, com o que chamamos de intuição feminina. Vale a pena ler, e muito mais vale a pena resgatar cada bruxa que existe dentro de cada mulher.

Significado de bruxa, segundo o dicionário Priberam:

bru·xa |ch|
(origem duvidosa)
substantivo feminino
1. Mulher que faz bruxarias.
2. [Figurado]  Mulher velha e antipática.
3. Panela de barro, crivada de buracos, que faz as vezes de braseiro.
4. [Ictiologia]  Peixe da costa de Portugal, também conhecido por cascarra.
Confrontar: broxa.

Um das versões de bruxa que o movimento de mulheres recomenda:

https://www.youtube.com/watch?v=n4RecjyPeBc


*Lorena Abrahão é militante da Marcha Mundial das Mulheres, com formação em Letras e atuação em assessoria sindical. 

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