CONVOCATÓRIA
Por Rafaella Moura*
Ao tentar encontrar a melhor forma de convocar o maior número de mulheres para a formação que irá ocorrer no próximo sábado, pensei se deveria buscar textos de grandes companheiras, com vasta experiência no assunto, ou talvez militantes da causa de outros países, grandes nomes, que sempre servem de base para a fundamentação da luta pelos direitos das mulheres. Porém, talvez de forma pretensiosa, resolvi convoca-las através de um discurso próprio. Um relato de uma mulher que sempre se indignou com a violência contra a mulher, mas só agora se tornou feminista.
Há um tempo atrás, não tinha idéia da dimensão do movimento feminista no mundo, e em particular no nosso país. Há cerca de um ano, comecei a vivenciar uma experiência que mudou minha vida, de verdade. Sempre me revoltei com casos de violência contra a mulher, mas nunca percebi, o quanto essa violência é mascarada, como ela pode tomar várias formas e entrar na nossa vida sorrateiramente e acabando por se tornar comum, comum a ponto de se tornar normal, normal a ponto de realmente acharmos que deixou de ser violência e passar a ser o que hoje classifico como “costume social”.
Quando, de repente, vimos em noticia que uma mulher foi queimada com ferro de passar roupa pelo próprio "companheiro" e que ele escreveu seu próprio nome com faca quente no corpo da vítima, fica clara e dolorosamente evidenciada a violência, e isso nós causa obviamente revolta, mas antes do feminismo, a única coisa que me acontecia era a REVOLTA, mas o que eu fazia com essa revolta? Adivinhem...isso mesmo, eu não fazia nada! Era difícil imaginar o que eu poderia fazer, como poderia ajudar, na verdade acredito que era bem mais fácil não me mexer, afinal, concordo com a nobre companheira Rosa Luxemburgo, quando nos mexemos, nos damos conta das amarras que nos prendem. E foi aí que aconteceu a verdadeira REVOLUÇÃO na minha vida, quando descobri o feminismo, ou melhor, nos descobrimos. Percebi como posso ajudar, posso até evitar, é emocionante ver o quanto os nossos gritos nas rua, as palavras de ordem,os congressos, as formações, são efetivos na luta, a luta nossa de cada dia, em nossas casas, no trabalho, nas universidades, podem acreditar, mudam sim a vida de muitas de nós, resgatam à vida perdida de muitas mulheres e até aquele tipo de violência, o “costume social”, quase imperceptível pra algumas, como a infeliz colocação de Rafinha Bastos, quando diz que: - as mulheres ‘feias’ deveriam agradecer seu estuprador. Fica cada vez mais evidente, hoje consigo odiar certos comerciais, piadinhas, e até já deixei de ouvir certas bandas que adorava, porque hoje vejo o grau de humilhação que certas letras nos sujeitam, e ontem, confesso, até chorei ao ver um filme onde uma mulher era brutalmente assassinada, porque ao ver a cena, penso em todas as mulheres que passam rotineiramente por isso.
É mulherada, espero que esse simples relato tenha servido para as que já estavam quando a ‘caloura’ aqui chegou, que a luta de vocês prospera cada vez mais, e para as recém-chegadas e as que ainda nem conhecem o feminismo, se inspirem, e vejam que existem mulheres que são iguais a vocês, que não querem e não vão se calar, diante de qualquer que seja o tipo de violência contra uma de nós.
Pra encerrar divido com vocês um pensamento que tive, quando ouvi de um militante, de um movimento que agora prefiro não citar, onde ele afirmou que as mulheres feministas eram mal amadas, me permiti pensar sobre o assunto, já que de certa forma fomos condicionadas a pensar como ele; conclui então que ao contrário do que ele afirmou, as feministas são muito bem amadas, são mulheres que se amam tanto, e que transmitem isso entre si, que não se sujeitam a viver com nada mesmo que dignidade e igualdade e é por isso que seguiremos em Marcha até que todas sejamos Livres!
*Rafaella Moura é estudante do curso de Direito da UFPA e militante da Marcha Mundial das Mulheres desde 2010.
Será facilitadora da Formação Feminista da MMM/PA, junto com Bianca Maués, também estudante de direito da UFPA e militante da MMM. Aguardamos todas no dia 24/09, às 9h, no Sindicato dos Bancários do Pará.
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