Quando estava grávida conheci, por indicação de amigas, o Grupo Ishtar que funciona em Belém. As mulheres a frente desta organização são umas fofas mas, por vários motivos não consegui ir em muitas reuniões (na verdade fui apenas em duas...) e acabei não criando laços de intimidade e amizade que me fizessem romper com a vergonha de ter alguém que mal conhecia com o poder de me influenciar na hora do meu parto (que ingenuidade: eu lá conhecia profundamente a médica, enfermeiras e outro profissionais?!).
No final das contas acabei fazendo uma cesariana que, hoje, reputo como desnecessária. Me arrependo profundamente de não ter tido uma doula do meu ladinho. Marido, mãe, sogra e outras pessoas mais próximas possuem um envolvimento emocional muito forte com a futura mãe e acabam infuenciando pela cesariana. Depois de 22 horas de trabalho de parto e sem ampliação da dilatação acabei cedendo à "experiência" das pessoas no assunto de que não dilataria mais etc. etc.
Sou praticamente uma garota propaganda do Ishtar, mas infelizmente a maioria das mulheres grávidas já estão "combinadas" com seus médicos de realizar cesarianas. É duro ver o poder sair das nossas mãos num momento em deveríamos ser as maiores protagonistas.
Fica a dica!
Tatiana Oliveira, advogada, assessora sindical, militante da Marcha Mundial das Mulheres e mãe da Clara (8 meses)
Ps. Não deixe de ler a Carta aberta abaixo.
REUNIÃO ISHTAR
Neste próximo encontro vamos falar de parto domiciliar. Será que em
pleno século XXI, somente o hospital é local seguro para um
nascimento? Por que algumas mulheres optam pelo parto domiciliar? Quais
são as vantagens e riscos do mesmo? Qualquer mulher pode ter filho em
casa?... Estas e outras questões serão discutidas em nosso próximo
encontro. Não perca!
Quando: 16 de Junho de 2012 - sábado de 09h às 11h
Tema: Tipos de Parto
Onde: Academia Companhia Athletica (Rua Municipalidade, 489 - Reduto - próximo à ESAMAZ)
Cidade: Belém/PA
OBSERVAÇÃO: A confirmação da participação agora é necessária, pois precisamos deixar o nome dos participantes na portaria.
Confirme sua participação pelo números: 8858-0416 ou 8884-0209;
ou pelo e-mail: espacoishtarbelem@gmail.com.
--
Espaço Ishtar Belém
http://espacoishtarbelem.blogspot.com
Pelo respeito ao tempo de gestar, parir e amamentar
Grupo Apoiado pela Parto do Princípio
http://www.partodoprincipio.com.br
---------------------------------------------------------------------------------------------
CARTA ABERTA À POPULAÇÃO
Nós, médicos humanistas, enfermeiras-obstetras e obstetrizes, todos os profissionais, entidades civis, movimentos sociais e usuárias envolvidos com a Humanização da Assistência ao Parto e Nascimento no Brasil, vimos através desta presente Carta manifestar o nosso repúdio à arbitrária decisão do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (CREMERJ) de encaminhar denúncia contra o médico e professor da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Jorge Kuhn, por ter se pronunciado favoravelmente em relação ao parto domiciliar em recente reportagem divulgada pelo Programa Fantástico, da TV Globo.
Acreditamos estar vivenciando um momento em que nós todos, que atendemos partos e/ou que defendemos o atendimento ao partodentro de um paradigma centrado na pessoa, na defesa dos direitos humanos da parturiente e com embasamento científico, estamos provocando a reação violenta dos setores mais conservadores da Medicina. Pior, uma parcela da corporação médica está mostrando sua face mais autoritária e violenta, ao atacar um dos direitos mais fundamentais do cidadão: o direito de livre expressão. Esse cerceamento da liberdade remete aos sombrios tempos da ditadura militar e não pode ser admitido na atual sociedade democrática. Médicos (como no recente caso no Espírito Santo) podem ir aos jornais bradar abertamente sua escolha pela cesariana, cirurgia da qual nos envergonhamos de ser os campeões mundiais e que comprovadamente produz malefícios para o binômio mãe bebê em curto, médio e longo prazo. No entanto, não há nenhuma palavra de censura contra médicos que ESCOLHEM colocar suas pacientes em risco deliberado através de uma grande cirurgia desprovida de justificativas clínicas. Bastou, porém, que um médico de reconhecida qualidade profissional se manifestasse sobre um procedimento que a Medicina Baseada em Evidências COMPROVA ser seguro para que o lado mais sombrio da corporação médica se evidenciasse.
Não é possível admitir o arbítrio e calar-se diante de tamanha ofensa ao direito individual. Não é admissível que uma corporação persiga profissionais por se manifestarem abertamente sobre um procedimento que é realizado no mundo inteiro e com resultados excelentes. A sociedade civil precisa reagir contra os interesses obscuros que motivam tais iniciativas. Calar a boca das mulheres, impedindo que elas escolham o lugar onde terão seus filhos é uma atitude inaceitável e fere os princípios básicos de autonomia.
Neste momento em que o Brasil ultrapassa inaceitáveis 50% de cesarianas, sendo mais de 80% no setor privado, em que a violência institucional leva à agressão de mais de 25% das mulheres durante o parto, em vez de se posicionar veementemente contrários a essas taxas absurdas, conselhos e sociedades continuam fingindo que as ignoram, ou pior, as acobertam e defendem esse modelo violento e autoritário que resulta no chamado "Paradoxo Perinatal Brasileiro". O uso abusivo da tecnologia é acompanhado por taxas gritantemente elevadas de mortalidade materna e perinatal, isso em um País onde 98% dos partos são hospitalares!
Escolher o local de parto é um DIREITO humano reprodutivo e sexual, defendido pelas grandes democracias do planeta. Agredir os médicos que se posicionam a favor da liberdade de escolha é violar os mais sagrados preceitos do estado de direito e da democracia. Em vez de atacar e agredir, os conselhos de medicina deveriam estar ao lado dos profissionais que defendem essa liberdade, vez que é função da boa Medicina o estímulo a uma "saúde social", onde a democracia e a liberdade sejam os únicos padrões aceitáveis de bem estar.
Não podemos nos omitir e nos tornar cúmplices dessa situação. É hora de rever conceitos, de reagir contra o cerceamento e a perseguição que vêm sofrendo os profissionais humanistas. Se o CREMERJ insiste em manter essa postura autoritária e persecutória, esperamos que pelo menos o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (CREMESP) possa responder com dignidade, resgatando sua função maior, que é o compromisso com a saúde da população.
Não aceitaremos que o nosso colega Jorge Kuhn seja constrangido, ameaçado ou punido. Ao mesmo tempo em que redigimos esta Carta aberta, aproveitamos para encaminhar ao CREMERJ, ao CREMESP e ao Conselho Federal de Medicina (CFM) nossa Petição Pública em prol de um debate cientificamente fundamentado sobre o local do parto. Esse manifesto, assinado por milhares de pessoas, dentre os quais médicos e professores de renome nacional e internacional, deve ser levado ao conhecimento dos senhores Conselheiros e da sociedade. Todos têm o direito de conhecer quais evidências apoiariam as escolhas do parto domiciliar ou as afirmações de que esse é arriscado - se é que as há.
http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=petparto
CONVOCAMOS todas as usuárias, entidades, a sociedade civil e os
profissionais envolvidos com a Causa da Humanização da Assistência ao
Parto, que envolve não somente a liberdade de ESCOLHA e o respeito ao
PROTAGONISMO FEMININO, mas o próprio princípio da liberdade de expressão
para participar da Grande Marcha do Parto em Casa, que terá lugar em
várias cidades do país nos dias 16 e 17 de junho de 2012, em protesto
contra o CREMERJ e em favor do direito de escolha do local de parto.
http://www.manifestolivre.com.br/ml/exibir.aspx?manifesto=pariremcasa2012
2 comentários:
Oi Tati,
Que legal você falar sobre esse assunto tão delicado para nós, mulheres. Durante toda a minha gravidez (Manu fez 1 ano semana passada), fiz o pré-natal com 2 médicas do plano de saúde e pra te falar a verdade, embora eu dissesse que gostaria do parto natural, em momento algum senti apoio das profissionais. Tudo bem, a gente entende o que há por trás de tudo isso, uma agenda corrida, um tipo de parto que "dá mais trabalho ao profissional", a conveniência do parto agendado, enfim...gostaria de ter tido a chance de ter tido a minha filha sem o que considero um trauma da cesária e a dor do "depois". É claro que não é o fim do mundo, mas no meu caso foi até difícil permitir a entrada do meu marido na sala de parto. Tive que bater o pé na entrada do centro cirúrgico porque "Em 20 e tantos anos de profissão, nenhum marido havia entrado" e o receio era que ele fosse desmaiar e dar mais trabalho à equipe. Rssssss....
Bem, depois de passado o momento de conflito e enquanto eu me preparava com o anestesista, morrendo de medo (gente, ter o 1º filho pode ser apavorante)tive uma crise de pânico e comecei a achar que ia morrer, assim, do nada...sabia que era um ataque de pânico (sou psicóloga), mas pera lá, a situação é mesmo de morte. Foi quando o marido entrou e só de segurar a minha mão, passou tudo. Começou um novo momento no meu parto. Fiquei esperando vir a Manu, com aquele anestesista enoooorrrme pulando em cima de mim. Ela nasceu, vi muito rapidinho porque o apgar foi 5 no momento do nascimento e logo depois do 1º minuto foi pra 9 \\\\o///.
O que eu tiro de tudo isso: em primeiro lugar que há algo muito errado na relação médico-paciente nos planos de saúde. Médicos, sejam honestos com suas pacientes e pacientes sejam honestas com seus médicos. Ficar se enrolando só dá confusão ao final das contas...
Outra coisa: o pai, parceiro, alguma pessoa de confiança da mãe é fundamental não só no parto, mas em todo o pré-natal e é direito da mãe e do bebê ter essa pessoa ao lado nas horas mais complicadas.
Uma outra coisa é que é preciso, desde que haja honestidade na relação, confiar no que nos diz o médico: nem sempre o nosso desejo é possível e em muitos caos, a cesárea é o melhor pra mãe e bebê. Resumindo, tudo está na relação...construindo relações verdadeiras e saudáveis o mundo fica mais bonito. Um abraço!
Josie,
Concordo com vc que a confiança é essencial. A cesárea as vezes é necessária, mas na maioria dos casos não é não. A mulhereda é induzida mesmo. A experiência da cesárea é horrível (me senti uma boneca de pano), o que faz ficar menos pior é a gente ficar se repetindo "já passou e o que importa é que minha filha é saudável".
Agora sobre a participação masculina é mesmo um absurdo barrar os pais de acompanharem o parto. Nós que lutamos por relações compartilhadas e divisão das responsabilidades devemos denunciar essa retranca conservadora que quer tirar os homens deste momento, já que muitos já fazem questão de serem participativos não só no parto mas na vida dos filhos.
Postar um comentário